Crítica: Vidas Partidas

Vivemos tempos sombrios. Tempos em que ideais conservadores ganham fôlego na política mundial e o velho machismo fica evidente em incidentes que pontuam tanto o noticiário policial quanto o meio cultural, como nos mostrou o lamentável episódio de ódio que a internet concebeu e testemunhou, com a recepção ultra negativa do reboot de “Caça Fantasmas“, antes mesmo do filme estrear nos cinemas, tendo como principal motivo o protagonismo feminino do quarteto exterminador de espectros. Mas será que isso tudo é uma novidade ou é a apenas a resposta apavorada de uma parcela da população a um novo comportamento que motiva um empoderamento feminino e a equiparação de direitos entre gêneros?

Se você pensar bem, a violência contra a mulher não é uma novidade, já que quase todos nós presenciamos ou ouvimos falar de histórias em que a mulher sempre apanhou calada, vivendo uma vida de terror sem ter a quem recorrer, sem apoio ou visibilidade em mídia alguma.

O filme “Vidas Partidas” nasceu de um projeto pessoal da atriz e produtora Naura Schneider, que visa um aumento nas denúncias contra abusadores e a criar um grande debate nacional sobre o assunto. Não que o longa seja panfletário, longe disso, mas o modo como o assunto é retratado no filme, torna impossível que se saia de uma sessão, sem ao menos expandir a discussão sobre como são tratados os casos de abuso doméstico no Brasil.

Nos anos 80,  o casal Graça (a própria Naura Schneider) e Raul (Domingos Montagner) têm duas filhas e uma relação marcada pela crescente postura autoritária e controladora do marido, culminando em um crime que pode ser passional ou não, já que em paralelo com a história do casal, vemos o julgamento de Raul em 1992.

O sexo é muito importante no filme, como uma ferramenta que mostra como os personagens agem e pensam. Logo na primeira cena, temos o marido demonstrando seu poder de dominação psicológica e física sobre a esposa, que naquele momento ainda se sentia atraída pela rudeza com que ele a tratava no ato sexual. Algo que não se repete quando o mesmo Raul tem uma transa cheia de carícias com uma de suas alunas.

O estreante diretor Marcos Schechtman e o roteirista José de Carvalho sabem como criar um clima de crescente mistério, com cenas muito bem filmadas e diversas referências visuais que remetem diretamente a “O Iluminado” de Stanley Kubrick, mas também cometem alguns erros, como a inabilidade de mostrar Raul como um homem sedutor e confiável. Talvez com o corte de umas poucas situações sem muita importância na trama, como a do policial corrupto, e a criação de mais cenas que humanizassem o personagem, como a do banho no cachorro, o filme poderia ter ganho muito mais força e tornaria a história um pouco menos maniqueísta.

Apesar de alguns deslizes, temos que exaltar um filme que trata de um assunto tão importante, afinal moramos em um país onde, segundo a Organização Mundial da Saúde, a cada duas horas, uma mulher é assassinada e destes, 33% dos homicidas eram parceiros ou ex-parceiros das vítimas.

Nós, do Vitamina Nerd, consideramos como sendo um dever ético de quem produz conteúdo midiático, estarmos sensíveis e apoiarmos causas sociais relevantes como o combate à violência doméstica.

Por isso, aproveitamos este “post” para reforçar a conscientização de que este assunto não está tão distante assim de nós, e que possuímos poderes dignos de um herói para lutar também contra este perigoso mal.

Se você sofrer, presenciar ou souber de algum caso de violência doméstica ou de abuso físico e psicológico, não finja que não aconteceu. Não perdoe. Denuncie!

Disque Denúncia: 180

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* Agradecimento Especial: Europa Filmes

 

 

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