Dica de Filme: Godzilla

Quando moleque, eu tive um Godzilla de brinquedo, que disputava minha atenção junto dos G.I. Joe, He-Man e outros tantos. Mesmo assim, ele era o maior dos bonecos. Eu passei anos e anos assistindo o Rei dos Monstros nas tardes do SBT (ou seria a Band?) e pirando nesse, que era o maior dos tokusatsus.

Godzilla surgiu no imaginário japonês como a personificação do medo das armas nucleares, originado por explosão nuclear. Seu tamanho, força e destruição evocam a fúria das bombas atômicas soltadas em Hiroshima e Nagasaki.

Gareth Edwards, que estreou em 2010 com Monsters, se provou o diretor ideal para esse ressurgimento do maior dos kaijus (Gamera que me desculpe). De mão firme e personalidade, ele executa uma obra que não deixa nada a dever.

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Encaixando drama humano no contexto, ele nunca perde a linha mesmo assim, amarrando os personagens de maneira crível e orgânica no ponto principal, que é o monstro e ponto final. Globalizando a trama, o diretor dá unidade a fisicalidade da história, o que acaba sustentando melhor todos os argumentos apresentados no filme. Deixando apenas fotos, referências e conversas pela metade, Edwards (e os competentes roteiristas Max Borenstein e Dave Callaham) acabam criando uma excelente atmosfera de expectativa, com as criaturas se revelando aos poucos e nunca deixando de espantar. Por isso, quando Godzilla finalmente surge com seu urro surreal, nossos corações explodem dentro do peito e aquele tesão primitivo da infância, do mesmo menino que brincava com seu boneco, retorna com tudo, feliz e vibrante.

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Obviamente, os que reclamaram das “poucas cenas” do Rei dos Monstros e, só por isso, determinaram que a qualidade do filme é “baixa”, realmente não conhecem o filmografia deste icônico personagem. Gareth Edwards é fiel do começo ao fim (inclusive no fim belamente simplório e objetivo), é fiel as origens do monstrão, aos conceitos que o envolvem e ao desenvolvimento como um todo. Quem não entende esse Godzilla de 2014, também não entenderia os anteriores feitos no Japão, com suitmation. Esse filme é impecável. Esse filme é Godzilla na veia, todos os elementos (e outras criaturas) estão ali.

O diretor também foi feliz ao jogar o expectador no meio da cena. Godzilla e Brody dividem o protagonismo em tela, e isso vai ficando claro a media que a história avança, tanto para o espectador, quanto para os novaiorquinos assustados (que nada diferem dos gratos japoneses anos antes, na fase Toho). Participamos da ação, invadimos as clareiras destroçadas da metrópole, passamos rente aos olhos dos monstros. A catástrofe incrivelmente executada, evoca a única coisa que Roland Emmerich sabia fazer em suas obras, o que dá outro ponto positivo aqui.

GODZILLA

A revelação gradual, contudo, não deixa de memorar Cloverfield, o que por si só já é um ótimo exemplo. A grande sacada de Godzilla de ontem, que também serve no de hoje, é justamente a construção do suspense, do que está por vir. Jurassic Park ainda é mais ecoante aqui, e por isso mesmo o sabor é melhor. Assim como Spielberg, Edwards gosta de colocar crianças e cachorros em apuros, para deixar a família espectadora com o coração na mão, apenas para depois salvá-los por pouco. A intimidade homem–monstro também se assemelha ao primor feito no filme dos dinossauros; além dos estereótipos: o prático em ação, o sabe-tudo, o ignorante. E, porque não, a bomba com contagem regressiva (tão atraente, que tem se tornado um ‘personagem onipresente’, como em Vingadores, Batman 3, o superestimado Pacific Rim etc).

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Ken Watanabe e Bryan Cranston se doam ao máximo nas interpretações, enquanto que Aaron Taylor-Johnson e Elizabeth Olsen provam uma química que esperamos ver repetida em Vingadores 2 (eles serão Mercúrio e Feiticeira Escarlate, respectivamente). Aliás, a trilha de Alexandre Desplat está acima da média e nos envolve seguramente, cena a cena. Trabalho bem feito, viu.

Enfim, filmão. Esqueçam Círculo de Fogo (como comparação, pois são duas obras claramente distintas), esqueçam aquela iguana ridícula de 98. Esse Godzilla é o mesmo Godzilla de antes, ele só mudou de ilha. E está ainda maior.

Filmaço! Que venha… Mothra! 

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