Luta de Classes, comédia dramática francesa

Nas primeiras cenas, elementos coloridos do cotidiano sobrepostos a imagens cuidadosamente escolhidas para serem cinzas nas ruas da cidade grande, e um final com elementos de filme da perestroika russa: aqui as cartas na manga de Luta de Classes, filme de Michel Leclerc (Os Nomes do Amor) que chega às telas brasileiras nessa semana.

O casal Sofia (a simplesmente linda Leila Bekhti) e Paul (Edouard Baer, que a dirigiu no teatro), estável por suas convicções morais e políticas, muda-se para Bagnolet e seu ar suburbano, lugar onde ela foi criada, matriculando seu filho retraído Coco (Tom Lévy) na escola pública local. Assim, rodeado dos filhos de casais amigos de seus pais, o garoto se sente confortável na escola, até o momento em que seus colegas trocam de colégio por opção de suas famílias.

Para proteger o filho que passa a se sentir deslocado, e não querendo retirá-lo do ensino do Estado por suas crenças pessoais, Paul e Sofia passam a enfrentar conflitos e obstáculos inesperados que, a princípio simples, vão se tornando desafiadores.

Luta de Classes
O casal e seu filho

Luta de Classes

Leclerc, ele próprio um filho de professora, tem uma história de reflexão sobre as contradições da esquerda. Então ele quer constantemente nos mostrar que a posição política cobra seu preço: a coerência entre discurso e ação nunca é fácil e cada pequena decisão pode se tornar um penoso exercício de autocrítica e reacomodação. Como, por exemplo, não abrir mão de seus ideais ao mesmo tempo em que se prega respeitar os ideais dos outros? Nesse sentido, o casal central se põe à prova.

E nisso este filme é consistente: o tom dramático é entremeado por vários momentos de humor (que geram risos nervosos na audiência) mas que não alivia a sensação tensa de um final triste. Conduzir o público por essa vereda emocional exige um tecido narrativo equilibrado, e Luta de Classes consegue bom resultado.

A diversidade de Bagnolet fica patrocinada pelo arco-íris que vemos periodicamente na tela. As crianças e os adultos se ferem e se curam com incrível rapidez nessa Babel cultural, aparentemente miscigenada (mas não realmente: as cores são nítidas porém sempre heterogêneas) e pulsante.

Leïla Bekhti e Edouard Baer

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As atuações são interessantes: o casal principal exala cumplicidade, a despeito de exteriorizações díspares: como podem ser tão parceiros sendo tão diferentes? Paul é baterista punk com história anarquista; e Sofia tem ascendência norte-africana e é uma advogada que ascendeu socialmente. Paul é um rebelde iconoclasta e individualista; Sofia pensa quase sempre no outro. Ele é mais contido e tem dificuldade em resolver problemas práticos; ela, pode perder o controle a qualquer momento.

Esse jogo individual versus coletivo, progressismo versus conservadorismo, nesse amálgama de contradições às quais passamos por sermos humanos, fazem de Luta de Classes um filme bem interessante, psicológico, de um diretor preocupado com o real significado da multiculturalidade e do esforço contínuo do eu em lidar com o dinâmico da vida em sociedade.

Luta de Classes

Nome Original: La lutte des classes
Direção: Michel Leclerc
Elenco: Leïla Bekhti, Edouard Baer, Ramzy Bedia, Tom Lévy
Gênero: Comédia, Drama
Produtora: Karé Productions
Distribuidora: A2 Filmes
Ano de Lançamento: 2019
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