Vilão, de V. E. Schwab

Victor Vale e Eli Ever se conhecem na universidade de medicina e os dois se interessam por experiências de quase morte. No último ano, Eli começa a pesquisar pessoas que ele chama de ExtraOrdinários, segundo ele, essas pessoas passaram por experiências de quase morte, mas sobreviveram e acordaram com algum poder sobrenatural.

Eli resolve que ele mesmo vai se tornar um EO e consegue, com a ajuda de Victor, que faz o mesmo logo depois. No entanto, a amizade entre eles começa a se desfazer conforme Eli muda de ideia sobre os EOs, ele passa a acreditar que todos são aberrações e que ele precisa eliminá-los.

Victor acaba preso por matar, sem querer, a namorada de Eli, Angie, e, alguns anos depois, quando ele sai da cadeia, ele vai atrás de Eli para impedir que o projeto dele dê certo. Eli, por outro lado, também quer encontrar seu ex-amigo e atual inimigo, já que ele também é um EO.

De amigos a inimigos

É impossível apontar quem exatamente é o protagonista de Vilão e, curiosamente, também é difícil determinar quem é o mocinho e quem é o vilão. O livro acompanha Victor Vale e Eli Ever, dois estudantes de medicina que também são melhores amigos, até que Eli começa a se aventurar nas suas pesquisas sobre ExtraOrdinários – ou EOs – e descobre que para adquirir os tais poderes sobrenaturais, é preciso viver uma experiência de quase morte. Tanto Eli, quanto Victor, resolvem tentar e eles acabam se tornando EOs, mas cada um com seu poder: Eli pode se curar de qualquer ferida que lhe infringem e Victor é capaz de causar dor a outras pessoas com a sua mente.

A partir desse momento, tanto Eli quanto Victor têm chances de se tornarem tanto super-heróis, quanto super vilões, e apesar da trama de Vilão ser uma história com elementos fantásticos, seus personagens são bem realistas, como todas as pessoas do mundo. Eli e Victor não são nem mocinhos e nem bandidos, e suas atitudes mudam de acordo com suas vontades, pensamentos e com o que eles podem lucrar com elas. Eli e Victor se tornam então, pessoas comuns, com poderes extraordinários, que claro, vão usar esses poderes em benefício próprio.

Mas é claro que a amizade dos dois não sobrevive a isso, primeiro porque um não consegue lidar com o poder do outro – Eli achava que ele deveria ser o único da dupla a ter poderes e Victor não se conforma que Eli não aceite os seus poderes -, mas também porque as ideias desses personagens do que fazer com suas habilidades é muito diferente. É quase como se Eli fosse o vilão da história de Victor, e Victor o vilão da história de Eli.

Perseguição a minorias

Vilão é um livro que se passa no mundo que conhecemos, mas que usa de muitos elementos fantásticos, a ideia parece ser explorar os super-heróis trazendo isso para a realidade. E é verdade que embora os personagens da obra tenham poderes fora do comum, eles são obtidos de uma forma que não é tão mágica assim, ainda que seja necessária uma certa suspensão da realidade durante a leitura.

Mas existem alguns elementos bem reais, como por exemplo, a perseguição às minorias, que aqui é representada pela perseguição aos EOs. A existência dos EOs não é de conhecimento geral da população, mas quem acredita que os EOs não devem viver por serem poderosos demais é o próprio Eli, que usa suas habilidades para persegui-los. Eli também é extremamente religioso e, depois de anos pesquisando, ele chega à conclusão de que pessoas ExtraOrdinárias não fazem parte do “plano de deus”. E é aí que a relação de Eli e Victor se complica mais uma vez, já que Victor também é um EO.

A mensagem, no entanto, é bem clara. Eli, depois de adulto, é retratado como alguém intolerante, que só acredita na sua própria religião e nas suas ideias. Ele persegue pessoas que são iguais a ele, e esconde que ele também é um EO. Mais tarde, Eli se junta a Serena, uma jovem que é capaz de convencer qualquer pessoa de qualquer coisa e não a mata não só porque ela é uma arma útil a ele, como também porque ela está sempre o convencendo a não matá-la.

A perseguição de Eli aos EOs é um reflexo do que vemos no mundo real e da perseguição que várias minorias sofrem, aqui ela só toma proporções um pouco mais mágicas.

Quem é o vilão?

Um dos pontos mais interessantes de Vilão é o fato de que ele não deixa claro quem é o vilão e nem parece fazer muitos julgamentos de seus personagens. Victor sai da cadeia se julgando um vilão, mas sua intenção é parar Eli, já Eli se julga um mocinho, ele acredita mesmo que está fazendo o bem, mas na prática, ele está caçando pessoas.

O leitor tende a simpatizar com Victor, que parece estar sempre remendando os erros de Eli, mas a conta não é tão simples assim, uma vez que Victor tem suas próprias questões e que os dois personagens são retratados de maneira bem humana, e automaticamente, bem realista.

A leitura de Vilão é bem prazerosa, a ideia é muito interessante e, em certos aspectos, bem inovadora, é legal, por exemplo, que o leitor possa acompanhar o ponto de vista de boa parte dos personagens, e que o narrador seja bem próximo de todos eles, essa é uma maneira de mostrar o que passa na cabeça dessas pessoas e de, pelo menos, tentar explicar algumas das ações deles. O livro é longo, por isso, a leitura não é rápida e em alguns momentos, ele fica um pouco lento.

Vilão é um livro que tenta trazer um pouco de realidade para as tramas de pessoas com superpoderes, ele ganha na sua história bem pensada, que nunca deixa claro quem exatamente é bom e quem é ruim, e nos seus personagens muito bem escritos e cheio de qualidades e defeitos, como todos os seres humanos.