O Diário de um Maquinista – comédia dramática

Ilija (Lazar Ristovski), um velho maquinista, adota um garoto, Sima (Petar Korac), que desenvolve por ele grande afeto; seu sonho também será se tornar “motorista de trem”. Entretanto, o idoso tenta impedi-lo pois é uma profissão solitária e que carrega um fardo: contar o quase incontável número de pessoas atropeladas por seus trens ao longo de suas trajetórias profissionais.

Mortes pelas quais os maquinistas são inocentados e toleradas, mas que atribuem aos profissionais uma história carregada em um tal nível que, em momentos de confraternização, relembram e disputam pela maior quantidade de mortes provocadas por eles.

O Diário de Um Maquinista é um filme de humor negro, como toda boa peça cinematográfica sérvia, com vários momentos de uma comicidade doentia: a visita do maquinista aos enterros dos que matou, a ansiedade do jovem profissional em conseguir matar a primeira pessoa (similaridade com a perda da virgindade perante o grande símbolo fálico que é o trem), a negociação com um suicida para que seja atropelado em vez de dar cabo da vida de outra forma, são alguns dos exemplos de um longa que conduz a história com sensibilidade suficiente para não embrulhar exageradamente estômagos mais sensíveis.

O Diário de um Maquinista

O Diário de Um Maquinista

Milos Radovic é um diretor experiente, e se cerca de atores veteranos cúmplices de seu ritmo contido; as fisionomias faciais são quase sempre neutras com um leve toque de sorriso, como se os personagens soubessem do absurdo da tolerância social pela morbidez de suas vidas.

Em especial, destaco a atuação muito bacana de Ristovski, CEO da Zillion Produções e que tem em seu currículo uma participação inclusive em Casino Royale (2006). No seu currículo de mais de oitenta trabalhos, Radovic amealhou um status de “Sean Connery sérvio”, o que o faz por seu Ilija em pé com muita facilidade.

A relação do personagem principal com sua namorada morta (também atropelada, o que lhe causou um trauma insuperável) é interessante no sentido de que a loucura se avizinha; mas, numa vida louca como essa, até isso é tolerável. A frieza e a senilidade se retroalimentam no olhar do espectador, e somos puxados a um ambiente sombrio de uma forma que nos permite ver que todos estamos próximos de um certo nível de fria estranheza: nossa vida tem toques obscuros aos olhares de outros, mas não necessariamente a nós mesmos.

O Diário de um Maquinista
Os protagonistas de O Diário de um Maquinista

Pontos negativos

Há, porém, de se considerar alguns detalhes negativos. Em primeiro lugar, a presença de uma parceira amorosa na vida de Sima é forçada, e está lá apenas para dar um clima ao final. Em segundo, há uma clara sensação de que o treinamento que Ilija dará a Sima será inevitável, e um evento durante a trama valida essa virada, tornando-se portanto um clichê.

Existe, também, a presença de uma personagem feminina que serve de “psicanalista” ao personagem principal, aparecendo em alguns momentos com a nítida finalidade de manter a sanidade de Ilija: até aí, sem problemas, entretanto, suas aparições são levemente repetitivas, e a retirada de uma ou outra dessas entradas seria o ideal.

No todo, gostei do que vi. Sugiro este longa aos que passeiam com tranquilidade por seu mundo de fantasias pouco aceitas pelo consenso geral, mas que gostariam que fosse o contrário. Este filme fez parte da 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

O Diário de um Maquinista

Nome Original: Dnevnik masinovodje
Direção: Milos Radovic
Elenco: Lazar Ristovski, Petar Korac, Mirjana Karanovic, Jasna Djuricic
Gênero: Comédia, Drama
Produtora: Zillion Film
Distribuidora: A2 Filmes
Ano de Lançamento: 2016
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