Crítica: A Comunidade

Será que algo bom, ainda será bom se for imposto de alguma forma? Em que momento a ingenuidade e o idealismo dão espaço para o cinismo e a indiferença?

O diretor dinamarquês Thomas Vinterberg, aborda estas e outras questões, se baseando nas experiências de sua própria infância, já que viveu em uma comunidade dos 7 aos 19 anos de idade. Como ele mesmo diz: “Foi um período louco, intenso e fantástico onde eu era rodeado por órgãos genitais, cerveja, discussões acadêmicas de alto nível, amor e tragédias pessoais.” e conclui, “..a vida durante aquele período agora me parece ingênua e idealista ao extremo – era cheia de esperança para o futuro.”

Em “A Comunidade” ele não faz um filme auto biográfico como de praxe na indústria do cinema e sim uma história que poderia acontecer em qualquer lugar do planeta na época do movimento hippie, quando as pessoas acreditavam e confiavam em seus semelhantes a ponto de dividir as suas vidas com dezenas de estranhos.

A caracterização de como algo que, aparentemente começa bem e termina mal, aparece na figura de Erik, um professor de arquitetura que é convencido por sua esposa Anna, a transformar sua recém-herdada mansão em uma comunidade. Apesar do humor e da boa convivência inicial, Erik nunca consegue assimilar perfeitamente o espírito de união, algo que é amplificado quando ele se relaciona amorosamente com uma de suas alunas.

O diretor é extremamente feliz na composição dos personagens que rodeiam a história do casal. Todos são de uma riqueza ímpar, que nos faz criar uma empatia imediata com  cada um deles. É como se passássemos a fazer parte daquele grupo, mesmo que a cultura da turma nórdica seja tão diferente da nossa. Essa simpatia com os personagens se torna ainda mais latente quando acompanhamos o lento e iminente efeito desagregador que vai recaindo sobre eles.

O destaque no excelente elenco é para a atuação soberba da atriz Trine Dyrholm, que vai do extremo prazer para o completo desespero de maneira arrebatadora e verdadeira, juntamente com a fofura do menino “cardíaco” que adora todas as mulheres bonitas.

A trilha sonora, onipresente em todo o longa, é belíssima e somente acrescenta à história. Com ênfase na utilização da canção de Sir. Elton John, “Goodbye yellow brick road”, que nunca foi tão bem utilizada na história do cinema como aqui.

Vinterberg,  que já havia nos mostrado todo seu talento em filmes inesquecíveis como “Festa de Família” – um dos top 10 da minha vida! – e “A Caça”, indica que “A Comunidade” nada mais é que um paralelo e uma metáfora da narrativa que conta, com a da própria história mundial, já que ela se passa em 1975, que é o período em que acontece a guerra do Vietnã, que culminaria com o fim do movimento “Paz e Amor”.

Depois de acompanhar tudo e até de se emocionar – porque não? –  ao final da sessão uma pergunta se torna latente e que cabe ao expectador responder: o que é felicidade pra você?

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*Agradecimento Especial: California Filmes

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