Me Chama de Bruna (1ª Temporada)

Outra versão de Bruna Surfistinha

Raquel Pacheco (Maria Bopp) é uma adolescente de classe média que resolve que não quer mais depender de seus pais. Aos dezessete anos ela sai de casa e decide que vai ganhar a vida como prostituta.

Raquel, agora usando o nome de Bruna, começa a trabalhar em um privê, onde rapidamente se torna a favorita dos clientes e faz com que as outras prostitutas fiquem com raiva dela.

Enquanto a popularidade de Bruna aumenta, ela começa a divulgar seu trabalho na internet e vai ficando ainda mais famosa.

Maria Bopp como Bruna
Maria Bopp como Bruna

Me Chama de Bruna é inspirada na vida de Raquel Pacheco, conhecida por publicar detalhes sobre sua profissão em um blog e mais tarde no livro O Doce Veneno do Escorpião — O Diário de uma Garota de Programa.

Quem é Raquel Pacheco?

É impossível viver no Brasil e não saber quem é Bruna Surfistinha, ex-garota de programa que ficou famosa por expor histórias dos seus clientes em um blog. Bruna Surfistinha, no entanto, é o pseudônimo de Raquel Pacheco, nascida em Sorocaba em 1984.

A história real da vida de Raquel não é muito diferente da que geralmente é apresentada na mídia e nas obras que retratam sua vida: ela saiu de casa aos dezessete anos, se tornou prostituta e com o tempo se tornou muito popular e requisitada, passando a atender em um flat. Raquel apareceu na mídia em 2005, depois do seu blog se tornar famoso, o que lhe rendeu uma série de participações em programas de auditório.

A série acompanha os primeiros passos de Bruna
A série acompanha os primeiros passos de Bruna

Bruna Surfistinha se tornou um fenômeno no Brasil justamente porque sua história de vida parecia muito distante do que se imagina ser a história de uma prostituta, já que sempre se relaciona essa profissão à falta de qualquer outra opção ou oportunidade. Raquel vinha de uma família de classe média e, portanto, não “precisaria” trabalhar como prostituta, criando no imaginário popular a ideia de que ela se prostituía porque gostava. A própria Raquel aumentava a lenda e dava força a essa versão.

Atualmente, Raquel não é mais garota de programa ou atriz de filmes pornôs, ela já lançou três livros e participou da quarta temporada do reality show A Fazenda. Sua vida também foi a inspiração para o filme Bruna Surfistinha, de 2011, estrelado por Deborah Secco.

Bruna Surfistinha

A primeira temporada de Me Chama de Bruna começa exatamente quando Raquel sai de casa e resolve ganhar a vida. Ela acaba em um privê de baixíssima qualidade, onde precisa dividir o espaço e um quarto com Jéssica (Nash Laila), Mônica (Luciana Paes) e Georgette (Stella Rabello). Raquel ainda é menor de idade, mas esconde isso da dona do lugar, Stella (Carla Ribas).

Bruna vem de um passado diferente das outras garotas
Bruna vem de um passado diferente das outras garotas

A série, então, passa a acompanhar o dia a dia de Raquel, que logo passa a se chamar Bruna, no privê, onde ela é um sucesso meteórico. Já na primeira noite ela chama a atenção de um cliente e antes que possa sequer perceber, ela vira a favorita do lugar roubando os clientes das outras meninas, o que obviamente, causa uma guerra.

As meninas, assim como o telespectador, não compreendem qual é o motivo para Bruna estar ali, uma vez que ela é uma jovem de classe média, mas ela defende seu direito de trabalhar e de ganhar o seu dinheiro, da maneira que ela quer.

Se por um lado a série deixa claro que Bruna faz o que quer com o seu corpo e que essa também é uma posição de liberdade, mesmo que dentro de uma profissão baseada na violência e no patriarcado, a série não romantiza a vida da garota ou das outras meninas, não escutamos, por exemplo, ela dizer que está no privê porque gosta, ela apenas parece entender que esse é o meio que ela tem e se conformar com isso. E se a vivência de Bruna, uma garota de classe média que se prostitui porque quer independência financeira, parece distante da vida de boa parte das mulheres que estão nesse ramo, a produção tem várias personagens que representam o outro lado dessa vida.

A série retrata suas personagens com realismo
A série retrata suas personagens com realismo

As outras meninas

Bruna é, obviamente, a protagonista da série, mas existem personagens secundários, outras mulheres na mesma profissão de Bruna, mas em situações bem diferentes. Jéssica, de quem Bruna rouba alguns clientes logo no começo e que é sua maior antagonista durante boa parte da primeira temporada, é uma garota negra e pobre, que precisa sustentar sua mãe e seu irmão. Sua família sabe que ela é prostituta e a incentiva a continuar no trabalho.

Já Mônica faz seu trabalho, mas não parece realmente interessada em sexo, é quase como se ela desaparecesse quando começa o programa. Mais tarde, ela começa a perceber que se sente atraída por Georgette, outra moça que trabalha no privê. Essa, por sua vez, é mãe de família e trabalha para sustentar a filha, escondendo de todos qual é a sua profissão e mantendo uma vida dupla, fazendo malabarismos para que seu trabalho e sua família não se misturem.

Bruna é a ovelha negra do privê e nenhuma das meninas consegue compreender por que ela está na profissão sendo que ela poderia estar vivendo com seus pais (Jonas Bloch e Clarice Niskier) e usufruindo do dinheiro deles. A história de Bruna é mais famosa porque é incomum, mas é interessante que a série se preocupe em narrar a vida de outras meninas, que estão na profissão por outros motivos.

Me Chama de Bruna retrata a prostituição com realidade
Me Chama de Bruna retrata a prostituição com realidade
A violência e os abusos

Me Chama de Bruna também é bem eficiente em retratar como é a realidade das mulheres que se prostituem, para além da fantasia. Se no imaginário popular, Bruna Surfistinha era uma jovem de classe média que se prostituía apenas porque gostava muito de sexo, a série segue outros caminhos.

Não existem meias palavras aqui, e o telespectador assiste a realidade nua e crua, seja nas cenas de sexo bem explícitas e realistas, presentes em quase todos os episódios, seja nas violências e abusos aos quais as meninas são expostas diariamente.

A série mostra clientes grosseiros, violentos, mal-educados, sujos, e eventualmente abusivos, que batem, estupram ou se recusam a usarem preservativos durante a relação. Como a série usa bastante da internet, a revenge porn – ato de divulgar fotos ou vídeos de uma pessoa nua ou mantendo relações sexuais sem a autorização dela – é um assunto que também aparece bastante. Bruna, por exemplo, é vítima de um programa violento que rapidamente escala para um estupro que é completamente filmado, e depois é vítima mais uma vez, quando descobre que a gravação desse programa está na internet.

Os personagens secundários tem tramas tão interessantes quanto a de Bruna
Os personagens secundários tem tramas tão interessantes quanto a de Bruna

Me Chama de Bruna também explora o crime, que sempre circunda esse tipo de profissão, uma vez que manter uma casa de prostituição é proibido no Brasil. Stella vive constantemente ameaçada pela polícia e sempre precisa pagar propinas para um policial corrupto. A casa então, acaba sujeita à vontade dele, que em determinado momento faz uma batida lá porque deseja um aumento.

No entanto, a série foge de classificações muito óbvias, pois seria fácil encaixar as garotas de programa em duas categorias: vítimas ou vilãs. Embora fique claro que a vida das meninas não é fácil, nenhuma delas se vê como vítima, e o discurso de Bruna de que ela é dona do próprio corpo e faz com ele o que quer, inclusive se vender, tira da percepção essa ideia da prostituta sofredora. Nenhuma das meninas é pintada como “destruidora de lares” ou “vagabunda”, uma vez que fica claro que elas estão ali trabalhando. Um dos pontos altos da série é justamente o fato dessas personagens serem muito realistas e muito humanas e terem muitas histórias para além de suas profissões.

Aspectos técnicos de Me Chama de Bruna

A série tem algumas vantagens em relação ao filme de 2011. A primeira delas é o formato, pois uma série tem muito mais tempo para desenvolver a história de Raquel com mais detalhes e com mais cuidado. A primeira temporada, por exemplo, é focada no tempo que Bruna trabalhou no privê e como ela começou a se tornar popular na internet. A segunda vantagem é justamente a evolução da internet. Se em 2005 Raquel contava suas histórias em um blog, na série, ela pode falar sobre isso em vídeos, e mais , os episódios sempre começam com um vídeo de Bruna, onde ela fala diretamente para a câmera e, automaticamente, com o telespectador.

A série não glamouriza e nem vitimiza a profissão
A série não glamouriza e nem vitimiza a profissão

A terceira vantagem é justamente a época, a série foi produzida em 2016, cinco anos depois do filme. Hoje em dia personagens femininas interessantes são praticamente exigidas e Bruna é a escolha ideal para isso. A modernidade também tem a tendência a compreender melhor essas personagens e, portanto, consegue olhar com mais realismo para uma personagem com uma profissão tão tabu, quanto a de Bruna. Me Chama de Bruna ganha muito em não fetichizar Bruna ou sua profissão e em mostrar com realismo, mas sem vitimismo a vida dela e das outras meninas do privê.

Claro que a série ainda é muito explícita, praticamente todos os episódios tem cenas de sexo bem realistas e com muita nudez, mas não é uma nudez desnecessária ou que é explorada de maneira que beira a pornografia, algumas das cenas de sexo, inclusive, estão muito mais próximas da agonia do que do prazer.

A produção é bem cuidadosa, com uma fotografia que não doura pílula e que mostra de maneira clínica a decadência e a sujeira do privê e, automaticamente, da vida de Bruna. O figurino também chama a atenção e diferencia Bruna das outras meninas, enquanto todas usam roupas pretas, justas, sensuais e curtas enquanto estão trabalhando, Bruna aparece sempre de camiseta, calcinha e meias, sempre claras, deixando claro que ela ainda não sabe muito bem como se portar naquele lugar. Quando as meninas não estão trabalhando, as vemos com roupas discretas, cabelos não tão bem cuidados e pouca maquiagem, marcando assim, a separação entre as duas vidas que levam.

Jéssica, Stella e Bruna
Jéssica, Stella e Bruna

Maria Bopp, que interpreta Bruna, é, sem dúvida nenhuma, o grande destaque da série, ela não só tem a aparência correta para o papel, como também consegue mostrar os dois lados de Bruna: a adolescente que quer ganhar a vida, e a mulher que está disposta a tudo. O elenco ainda tem outros grandes nomes, que também se saem muito bem como Nash Laila, Luciana Paes e Suzana Kruger.

A primeira temporada de Me Chama de Bruna soa como uma versão mais realista da história de Raquel Pacheco, e ao mesmo tempo em que apresenta uma protagonista forte, que ainda tem dúvidas e medos, mostra a realidade da prostituição, sem medo e sem pena.

Me Chama de Bruna (1ª Temporada)

Nome Original: Me Chama de Bruna
Elenco: Maria Bopp, Carla Ribas, Stella Rabello, Nash Laila, Luciana Paes
Gênero: Drama, Erótico
Produtora: TV Zero
Disponível: Amazon Prime Video
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