Triângulo da Tristeza

Triângulo da Tristeza é uma comédia de erros que trata com muito cinismo e humor ácido a futilidade dos milionários, mas com um texto sagaz, improvável e que toma rumos completamente inesperados

O diretor Ruben Östlund (The Square e Força Maior) divide sua narrativa em 3 partes, mas sem se prender aos 3 atos, usando o primeiro momento para apresentar o casal protagonista, com diálogos que deixariam Caio Castro sorrindo, em um delicioso e longo debate sobre quem paga a conta e de que não se trata de dinheiro (Harris Dickinson e Charlbi Dean – que faleceu em agosto, aos 32 anos – brilham demais e não estou me referindo a seus corpos sob o sol).

A segunda parte é a melhor do longa e que faz valer sua sessão, com outras figuras absurdas (mas completamente críveis) sendo apresentadas, em um iate de luxo, onde os ricaços simplesmente não aceitam o “não” como resposta ou se apegam a pormenores ridículos, rendendo não só momentos hilários, como também de vergonha alheia.

Triângulo da Tristeza

É nesse momento, em que uma rápida participação de Woody Harrelson potencializa ainda mais uma história que já estava fantástica. Seu diálogo com o também ótimo Zlatko Buric, quando os dois trocam citações sobre figuras políticas ou da literatura, sobre socialismo e capitalismo, durante uma tormenta, é hipnotizante, e é seguida de uma sequência asquerosa envolvendo vômito e merda daqueles que tem muito a pagar, mas não suportam uma ondinha (diferentemente dos funcionários, que vão limpando todos os rastros durante o tumulto). A ironia envolvendo a granada de mão, dialogada antes por dois ricações, é simplesmente espetacular.

O que leva o público para a terceira parte de Triângulo da Tristeza, a mais inusitada, envolvendo sobrevivência e mudança na escala de poder (quando Dolly De Leon entra para mudar tudo), com um desfecho aberto, mas que faz valer a experiência no tratado social debatido tão divertidamente por aqui.

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