Tico e Teco: Defensores da Lei

Divertidíssimo e ousado, há muito que a Disney (e até a Pixar) não apresentava algo tão criativo e fora da embalagem confortável de sempre. Sendo um herdeiro direto da linhagem Uma Cilada para Roger Rabbit, esse filme de Akiva Schaffer (que despontou escrevendo para o Saturday Night Live) apresenta todas as técnicas de animação (tradicional 2d, cel shading, CGi, stop-motion, massinha, fantoche, além das interações em live-action, é claro), em diversos estilos e gêneros (mesmo!), com o maior número de cameos que você verá em um filme na história do cinema.

Com um humor afiado que faz frente à produções como Uma Aventura Lego e uma estrutura de roteiro detetivesco que lembra o de Zootopia (mas com o conflito vindo de uma gangue que pirateia as animações), o brilhantismo desse longa reside em saber atrelar todas as aparições com função narrativa, dando uma jornada de reconciliação para Tico e Teco, que se separaram após o programa Defensores da Lei, que tão apaixonadamente muitos de nós acompanhamos no início dos anos 1990 (outra baita sacada, é que ao contrário de um tradicional Tico, ainda em 2D, Teco resolveu passar por uma cirurgia de computação gráfica, assumindo um visual mais aceitável para os dias de hoje).

Tico e Teco: Defensores da Lei

Tico e Teco: Defensores da Lei

E como o próprio diretor já disse em entrevista, eles não fizeram grandes acordos com as concorrentes que sacaneiam (Warner, Nick Jr., Dreamworks e tantas, tantas outras, uma surpresa vasta), mas sim contrataram bons advogados que permitiram a eles essa absurda liberdade criativa. Ao contrário do que vemos em Roger Rabbit, onde Zemeckis teve de negociar o exato mesmo tempo de tela para o Pato Donald e o Patolino, aqui Schaffer mete o pé na jaca e explora tudo o que lhe dá na telha, sacaneando profundamente tanto as figuras (das clássicas às modernas) Disney e Pixar, como as de outras paragens, inclusive asiáticas, algumas europeias e outras bastante alternativas, mas que são um presente para o público nerd (e se você não for e não captar metade das participações, sem problemas, a história funciona mesmo assim).

Entre as grandes sacadas do roteiro, temos a caminhada pelo Vale da Estranheza, que tira uma com o início do 3D, tanto nos jogos quanto nas animações, incluindo um coadjuvante bizarro que parece saído do filme A Lenda de Beowulf (mas quando ele aparece, citam O Expresso Polar, ambos de Robert Zemeckis, que entre tantos, também dirigiu Roger Rabbit). Os momentos no evento de cultura pop ou numa avenida principal, são de encher os olhos pelos easter eggs espalhados a torto e a direito, que vão deixar qualquer um atordoado, porém feliz.

Tico e Teco: Defensores da Lei

A esteira transformadora que pirateira os personagens, também oferece algumas brincadeiras com estilo de desenhos (dos animes aos cartuns dos anos 1990 e 2000), uma referência à figura do jovem Spielberg, um vilão “Frankenstein” que traz no visual e na voz ao menos 8 detalhes curiosos, menções a filmes falsos (divertidíssimo, atente-se) e até a filmes antigos — que provavelmente a maioria não vai pegar. O final não têm cenas pós-créditos, mas guardam diversas referências visuais a outras obras.

Se considerar os cameos um spoiler, pule este parágrafo

De He-Man a Sonic “feio” (aquele que conseguimos fazer a Paramount redesenhar em 2019), de Voltron a Ash de Pokémon, passando por Shrek, Beavis and Butt-Head, Batman do Ben Affleck, Alien, Velozes e Furiosos, uma outra interpretação de Uma Babá Quase Perfeita, Willy o gigante – daquele curta do Mickey, os três porquinhos, South Park, duas versões do Tio Patinhas (a clássica e a do novo DuckTales), o Balu do Mogli 3D e a Esquadrilha Parafuso, o Lumière de A Bela e a Fera, o Frangolino dos Looney Tunes, uma menção A Era do Gelo, Linguado da Pequena Sereia, Peppa Pig, Patrulha Canina, a mãe de Phineas e Ferb, o coronel de A Dama e o Vagabundo, Darkwing Duck, Simpsons, Indiana Jones, o próprio Roger Rabbit, Alvin e os Esquilos, James Bond e tantos, tantos outros, incluindo embalagens de chocolate, de cereal, sacanagens com tipos diversos de filmes, programas e séries, nada é perdoado nessa produção e há muito, muito mais em tela, que necessitará de uma nova sessão (e dessa vez pausada), para captar as milhares de participações. Aqui, só revelei o básico, não arranhei nem a superfície.

Brilhante, Tico e Teco: Defensores da Lei vai muito além da brincadeira e consegue divertir e emocionar, enquanto dá um banho de nostalgia e homenagem para o seu público de ontem e de hoje, feito com paixão, de nerd para nerd.

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