Soul – Pixar repete fórmula – Disney +

E tenta atingir a alma do público com mensagem piegas...

Pete Docter realizou uma das melhores animações da produtora em 2015 com ”Divertida Mente” e é justamente daquela obra-prima que ele resgata atributos para compor Soul, a história de um músico de jazz que perde a vida. Para voltar, ele precisa da ajuda de uma alma infantil ancestral que ainda está aprendendo sobre si mesma.

Se no longa anterior tínhamos representações criativas a respeito da psiquê humana, agora somos apresentados a visão Pixar do além (e suas paragens, como a clichê luz no fim do túnel, o fofo pré-vida, o campo das almas perdidas, o salão de afinidades etc), com figuras abstratas ganhando vida de maneira interessante e substituindo qualquer elemento cristão, que poderia tornar essa obra desnecessariamente divisiva (por isso, saem os anjos, entram entidades neutras que não vão desagradar nenhuma crença e podem ser interpretadas por qualquer um como bem entenderem).

Tem até o conceito de “salto de fé”; quando suas personalidades estão completas, as almas precisam pular no espaço para chegar à Terra. Outras brincadeiras com elementos espirituais, como o momento que um artista “viaja” em sua obra (e portanto chega no plano sobrenatural por um breve momento, algo que também pode ser atingido com ioga, foco e outras variantes de meditações) são criativos e sustentam a identidade da Pixar.

Soul

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Docter, ao lado de Kemp Powers (roteirista de ”Star Trek: Discovery”), consegue também criar uma cativante dupla improvável e diametralmente oposta, quando fazem seu protagonista Joe (Jamie Foxx) cruzar com o de 22 (Tina Fey), uma alma que nunca conseguiu completar sua personalidade e, portanto, está há séculos “tentando” conseguir seu passe para a Terra (só que não, afinal ela se auto-sabota).

O contraste entre ambos é explícito: o pianista quer mais do que tudo voltar à vida e a amargurada alma não vê propósito na existência. No entanto, juntos é que eles entendem o que é a tal fagulha que todos falam, a única parte de cada alma que não lhes é designada por ninguém – exatamente o que falta à 22. Em vinte minutos de filme, já é possível sacar as batidas da trama, para onde ela vai rumar e como provavelmente vai terminar (dito e feito!). Mas não, não vai lhe tirar lágrimas, não é para tanto (e nem precisa, obviamente).

Com isso, Soul evidencia sua mensagem mais exclusivamente para crianças sobre o tal “sentido da vida”, envolvendo moralidade e algumas piadinhas que não poderiam faltar. Além do já citado ”Divertida Mente”, outras produções da Pixar souberam dosar melhor um direcionamento para um público de 8 a 80, como ”UP”, ”Viva” e ”Os Incríveis”, algo que não acontece aqui (e tudo bem, afinal é a proposta de público-alvo).

Soul

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Porém, a criança vai necessitar de um adulto para lhe “explicar” o final aberto, que cabe várias interpretações (não a mim, pois pareceu mais do que extremamente óbvio). Fora esse detalhe, as divertidas situações de humor físico com o pianista e “seu gato” vão render bons momentos de entretenimento entre toda a família.

No mais, o longa animado ganha pontos pelo trabalho sonoro, dos arranjos à trilha, com nomes como Trent Reznor e Atticus Ross, Nine Inch Nails e também de Jon Batiste, que contribuem do começo ao fim para envolver o público em diferentes cenários e situações, todos também impecavelmente vistosos, neste que é de longe o melhor trabalho gráfico da Pixar, que finalmente atinge o ápice com cenários ultrarrealistas de uma Nova York cotidiana e não romantizada, onde os personagens navegam pelas ruas do subúrbio e andam no sujo metrô etc.

O design de personagens ainda segue o padrão da produtora (além de ser a primeira vez que a Pixar investe em um elenco negro; antes tarde, bem tarde, do que nunca), mas aqui dá um passo além nas movimentações, trejeitos únicos e textura.

Formulaico e óbvio, Soul é uma competente animação que fala sobre valorizar as pequenas coisas da vida e aproveitar melhor a existência fora de suas obsessões diárias, tudo embalado com um incrível trabalho gráfico e sonoro.

Soul

Nome Original: Soul
Direção: Pete Docter, Kemp Powers
Elenco: Jamie Foxx, Tina Fey, Graham Norton
Gênero: Animação, Aventura, Comédia
Produtora: Walt Disney Pictures, Pixar Animation Studios
Distribuidora: Disney +
Ano de Lançamento: 2020
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