Perlimps

Em Perlimps, duas pequenas criaturas vivem uma aventura fantástica em um universo sem igual, em uma história que disfarça seu lado sombrio com o melhor da animação atual.

Alê Abreu (de O Menino e o Mundo) segue mantendo sua autenticidade (estética e narrativa), fugindo do padrão Pixar/DreamWorks, com um filme animado que remete muitas vezes a ilustrações de livros infantis, algo entre a aquarela e o giz de cera, com traços delicados, agradáveis e supercoloridos, com uma animação fluída e lindíssima.

A linguagem adotada aqui me remeteu mais às realizações do Studio Ghibli, com um olhar sensível sobre questões da humanidade, muitas delas inevitáveis. Ou de quando encara a natureza com reverência, dando o momento, quadro a quadro, para que seu público faça o mesmo.

Perlimps

Perlimps

Os cenários são deslumbrantes, toda a ambientação, seja no meio selvagem, seja em contexto mais fantasioso (tal qual um sonho), ou até aqueles que encostam no realismo (e que, justamente por isso, geram um choque quando se apresentam), são de encher os olhos.

Poucos personagens povoam as telas e o destaque fica na construção e desenvolvimento justamente da dupla protagonista, Claé e Bruô – respectivamente, uma raposa (que jura ser um lobo) autoproclamada “agente secreto do Reino do Sol” (e que portanto traz as cores quentes em seu design); e um mix de urso com vários outros animais, sendo “agente secreto do Reino da Lua” (com uma paleta fria), dublados por Lorenzo Tarantelli e Giulia Benite (a Mônica, dos filmes live-action). O grande Stênio Garcia faz a narração do longa e a voz do João de Barro.

As crianças conseguem imprimir ingenuidade e inocência em suas criaturinhas, que navegam por esse mundo fantástico para realizar uma importante missão e, ainda que seus reinos tenham conflitos de interesse, o objetivo é o mesmo. Tudo isso, enquanto fogem dos Gigantes.

Ainda que tenha um início didático e divertido, Perlimps não se acomoda na simplicidade, logo abraçando seus contornos sombrios, muitas vezes melancólicos e poderosamente reflexivos. A reviravolta que chega próxima ao final dá um sabor agridoce para a resolução, mas ainda sim é um desfecho condizente e coerente com o que foi apresentado até ali.

E Alê Abreu, como o bom contador de histórias para crianças que é, sabe que, tal qual muitas produções do passado, não deve subestimá-las e sim contar a história que se faz necessária. O filme não deixa de ser infantil, mas é, acima de tudo, respeitoso com seu público. E lindo.

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