‘Mudo’ e completamente perdido

Alexander Skarsgård faz o protagonista, que quando criança sofreu um acidente que lhe tirou a voz. Vindo de uma comunidade Amish, seus pais optaram por “deixar nas mãos de Deus”, sendo assim ele não passou por uma cirurgia adequada e cresceu uma figura solitária, que trabalha como barman em uma boate pra lá de suspeita e se envolve como uma garçonete cheia de segredos.

Aproveitando a onda de Blade Runner 2049 e Altered Carbon, o filme retrata um cenário futurista muito semelhante a essas obras, com carros voadores, androides sexuais, drones-entregadores-de-comida e muito neon sobre o azul e o púrpura, que serve a história a sua maneira, ainda que não seja exatamente crucial para o andamento das coisas, ficando pouco a pouco relegado como enfeito de pano de fundo.

Duncan Jones, que vem de uma curta carreira irregular (Contra o Tempo é até bacana e Warcraft surpreende), se perde aqui num mar de personagens desnecessários, em um roteiro confuso, ainda que linear. Veja bem, a namoradinha guarda um grande segredo e quando está prestes a contá-lo, o protagonista “diz” que não precisa, mas depois fica desesperado por respostas quando ela desaparece. Em paralelo, temos as tramas dos vilões, completamente bagunçada e com figuras de poder numa escala que se mistura. Temos um tipo de máfia, capangas e até um pedófilo com subplot próprio que não agrega nada ao enredo.

Paul Rudd e seu bigode são os únicos que se salvam no filme. O ator interpreta um ex-soldado instável, explosivo e com uma filha pra cuidar, ao mesmo tempo que não é piedoso com jovens inocentes, velhinhas e mulheres, em um papel bem diferente dos quais ele se acostumou a interpretar, por isso sua entrega aqui é curiosa e funcional. Justin Theroux, em contrapartida, é um personagem completamente descartável e que nunca faz sentido na trama. Incluindo aí suas cenas no clímax, que forçam a barra e complicam o que já estava arruinado.

MUDO é um filme perdido, que não se decide se é drama cyberpunk ou suspense policial, com violência e cenas de abuso realmente gratuitas, que incomodam pelo uso desnecessário de sequências, que só arrastam o filme (parece que nunca vai acabar, em um final interminável), longuíssimo e que tem pouco a dizer.

Mudo

O Netflix erra em sua nova produção, com um filme pretensioso, que não diz a que veio, ainda que seu personagem mudo funcione melhor do que todos outros que abrem a boca.

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