O Pintassilgo, uma trama de luto e de arte

O Pintassilgo é inspirado no livro de mesmo nome de Donna Tartt. Nele, Theo Decker (Oakes Fegley/Ansel Elgort) perde a mãe em um atentado terrorista em um museu. Assim, ele passa a viver com a família de um antigo amigo de escola, mas se sente automaticamente conectado com outra sobrevivente do atendado, Pippa (Aimée Laurence/Ashleigh Cummings) e a loja de antiguidade que fica embaixo de sua casa.

O atentado muda toda a vida de Theo e determina tudo que lhe acontece depois.

O luto em O Pintassilgo

É natural que um filme que comece com uma morte relevante e que use esse acontecimento como impulso para a sua trama fale sobre luto. Em O Pintassilgo, o processo de luto de Theo, um menino de mais ou menos 12 anos, que perdeu a mãe de maneira inesperada e que se sente estupidamente sozinho no mundo, é extremamente importante, mas não é único.

Pippa, outra sobrevivente do atentado, também sente falta do tio (Robert Joy) que a acompanhava no museu naquele momento e, para piorar sua situação, não se lembra do que aconteceu. Mais tarde, Theo entra em contato com outras pessoas que também precisam lidar com as mortes de pessoas próximas e queridas, como Mrs. Barbour (Nicole Kidman) e Boris (Finn Wolfhard/Aneurin Barnard).

Essas pessoas vão se esbarrando pela vida e juntando suas experiências e seus traumas, ao mesmo tempo que se apoiam umas nas outras para lidar com suas perdas. O luto de Theo ainda tem mais um agravante, ele se sente culpado pela morte da mãe, e isso aparece durante o filme inteiro.

A arte

Outro ponto que compõe O Pintassilgo é justamente a arte, que está diretamente ligada a um segredo de Theo.

Quando a mãe de Theo morre, os dois estão em um museu, e esse é um ato que determina toda a vida do garoto. Mais tarde, quando ele passa a viver com os Barbour, ele se dá muito bem com a mãe da família, que também gosta muito de arte, e com Hobie (Jeffrey Wright), que tem uma loja de antiguidades e trabalha com restauração. Parece que a vida inteira de Theo esteve moldada para que ele se encontrasse em algum momento na arte gráfica.

O diretor John Crowley dá bastante ênfase a esse aspecto quando filma diversos quadros, seja no museu, seja em outros lugares que Theo frequenta. Mais tarde, ele coloca cenas onde Theo aprende como identificar uma réplica de uma antiguidade autêntica. Isso deixa claro que os objetos têm bastante valor nessa trama, especialmente os que podem ser considerados obras de arte.

Aspectos técnicos de O Pintassilgo

A história parece ter um grande desafio pela frente na sua versão cinematográfica: adaptar um livro de 728 páginas. Por isso, é natural que o filme seja longo (2h30min) e que mesmo assim não aborde tudo que o livro aborda.

É essa a sensação que se tem, especialmente para quem não leu o livro e está entrando em contato com a história pela primeira vez, que o livro tem muito mais conteúdo que o filme. Fica claro que todos os personagens que circundam a vida de Theo têm a sua própria história, que não teve tempo de ser explorada no longa.

Até aí, tudo bem, é normal que não se possa adaptar todo o conteúdo de um livro para o cinema e que muitas vezes ele seja até alterado. Mas o que acontece em O Pintassilgo é que somos apresentados a diversas tramas que poderiam ter sido deixadas de lado e que, em alguns casos, nem tem finalização, para dar mais ênfase a partes mais importantes da trama.

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Os personagens, tanto Theo, quanto os coadjuvantes, são extremamente bem construídos e a primeira parte do filme deixa o espectador preso à sua história, mas na tentativa de compensar isso e para que o filme não ficasse ainda maior, o clímax e a resolução acabam se tornando corridos e precipitados.

No entanto é notável a preocupação da produção em relação aos aspectos estéticos, tudo no longa parece pensado sob medida e com muito cuidado para traduzir para o cinema a sensação do livro. É assim que temos uma direção de arte bem-feita, preocupada em repetir elementos nos figurinos dos atores mais novos e dos atores mais velhos, e boas atuações como a de Nicole Kidman, Finn Wolfhard e Aneurin Barnard.

Também salta aos olhos a trilha sonora que é muito variada, passando por Gleen Gould e Bob Dylan.

O Pintassilgo é um filme que fala sobre luto e culpa, e que prende os espectadores nas vidas de seus personagens. Portanto, mesmo sendo longo, não se sente o tempo passar. Certamente o livro deve abordar muitos outros conteúdos, mas o filme também não faz feio.

O longa entra em cartaz no dia 10 de outubro.