Projeto Gemini, dois malucos no pedaço
Will Smith já foi um dos atores mais rentáveis de Hollywood. Em alguma dessas curvas da vida, ele deu uma volta equivocada e acabou sendo superado por outras estrelas bem mais populares entre a garotada ultimamente, mas seu nome ainda é forte e lhe permite puxar alguns trabalhos que parecem ter surgido só para manter grandes atores em pôsteres de cinema. Esse é o caso de Projeto Gemini, novo trabalho de ação do diretor Ang Lee.
No filme, Will Smith interpreta um matador de aluguel que já tá cansado, deve ter lá sua graninha aplicada em investimentos rentáveis, tem muito show sobrando pra assistir na Netflix, e matar pessoas não é tão divertido quanto já foi um dia; então ele decide se aposentar. Mas essa é uma decisão que desagrada uma galera poderosa. E como a nova reforma da previdência dita que aquele que tenta se aposentar antes dos 60 vai ser caçado pelo governo e assassinado (alguém compartilhou essa notícia no Facebook, acho), então ele começa a ser perseguido por um moleque muito parecido com os jovens que frequentavam a região de Bel Air na década de 90 e que pretende matá-lo.
O garoto é um clone mais jovem do Will Smith. E acho que isso não é spoiler – porque é informação que tá no pôster, no trailer e porque daqui a 3 anos todo mundo vai falar de Projeto Gemini como “aquele que o Will Smith quer matar o Will Smith”.
Projeto Gemini – Jovem Will
As técnicas de rejuvenescimento computacionais têm se mostrado muito mais eficientes do que os últimos procedimentos de cirurgia estética conseguem acompanhar. Seja com o fantástico trabalho da Marvel com Robert Downey Jr. que acabou sendo extrapolado para o Samuel L. Jackson em toda a extensão de Capitã Marvel, ou até mesmo em seu formato caseiro, com aqueles aplicativos gratuitos de celular que te deixam mais jovem ou mais velho e provavelmente roubam sua localização, seu CPF, suas transações bancárias… mas foda-se, quem não quer ver como vai ficar sua cara daqui a 10 anos?
O jovem Will Smith de Projeto Gemini é completamente criado por computador, e é realmente bem feito. Suas expressões faciais são convincentes (ele chora tão bem em dado momento que a única decepção foi não aparecer o Tio Phil com um abração confortador); e na maioria das cenas é fácil esquecer que estamos assistindo a computação gráfica. Infelizmente, em alguns trechos, o filme acaba escorregando no efeito e o personagem fica parecendo a renderização de um jogador genérico do último jogo do FIFA. Essas cenas são raras, mas como o personagem é um elemento tão central no filme, o deslize computacional acaba saltando aos olhos.
Ainda assim, criar completamente do zero um Will Smith virtual parece uma alternativa melhor e mais convincente do que usar o Jaden Smith.
Manda mais frame que tá pouco
Outra escolha da produção é a de exibir o filme em 60 fps (frames por segundo – a frequência de quadros que cada segundo de filme possui). O normal da indústria é de 24 fps, mas cineastas como Peter Jackson já fizeram testes com 48 fps (em O Hobbit). Não são todas as salas de cinema também que possuem o moderno equipamento para exibir todos os quadros. Portanto, para ver em 60fps, busque as sessões com o nome de 3D+.
É necessário um tempo assistindo para que o espectador se acostume com as taxas mais altas de exibição de frames, já que com a maior contagem de frames o efeito Soap Opera (aquela sensação de estar vendo uma produção de TV) salta aos olhos causando um certo estranhamento, como se ele estivesse levemente acelerado ou como se tudo fosse uma animação – o que talvez ajude a camuflar um objeto 3D no meio das cenas.
Mas vale a pena pela curiosidade da nova tecnologia e porque é sempre bom ver uma loja inteira sendo completamente metralhada com o dobro de frames com os quais estamos habituados. E sinceramente, se você já viu alguma coisa sendo metralhada na sua vida, eu espero que tenha sido em alguma contagem de frames por segundo e não porque você estava passando férias no Rio de Janeiro.
I got in one little fight and my mom got scared
No final, a tecnologia acaba sendo a única coisa interessante que o filme traz de novo. A história é rasa e óbvia, como uma versão mais leve e piorada de Looper: Assassinos do Futuro; as cenas de ação são previsivelmente divertidas; eu já era perdidamente apaixonado pela Mary Elizabeth Winstead antes (o que faz vê-la em cena um bônus); e o personagem-feito-por-computador é um recurso já recorrente no cinema atual, quase obrigatório.
A direção de Ang Lee é competente como sempre, aproveitando de cenários belíssimos. Alguns takes são um pouco mais longos e outros com visão em primeira pessoa. Algumas cenas de ação são um pouco confusas, no estilo “Capitão América brigando com Capitão América”, no qual é difícil saber quem é quem.
E sobra também a vontade do espectador de ver o Will Smith velho dando um conselho final para o Will Smith novo: “Fique longe de As loucas aventuras de James West, e se possível ligue novamente para o pessoal daquele tal de Matrix cara!”
Esta resenha crítica é uma parceria Paulo Velho e Mauro Roberto Jr.