Playmobil – Uma hora e meia de propaganda de brinquedo
É impossível não comparar Playmobil – O Filme com a animação de 2014, Uma Aventura Lego. Ambos são filmes infantis baseadas em uma série de brinquedos europeus. Também são basicamente produções Hollywoodianas licenciadas com o intuito de vender produto infantil. E ambos são animações com um pezinho no live action. Até na coletiva de imprensa com o diretor Lino DiSalvo, as semelhanças e diferenças entre os dois filmes foram discutidas.
Então, nada melhor do que começar com o veredito para tirar de uma vez isso do caminho: Playmobil – O Filme não entrega nem de perto a magia e diversão que o filme do Lego traz. O longa dos bloquinhos é muito mais bem feito, tanto na produção de animação quanto na história e comédia.
Playmobil – Brinquedos Que Marcaram Época
O Playmobil é criação do inventor alemão Hans Beck, que passou 3 anos desenvolvendo o conjunto de bonequinhos que foi lançado em 1974. Ele é, então, bem mais novo que o Lego, invenção dinamarquesa de 1949. Mesmo assim, a concorrência germânica obrigou os dinamarqueses a se mexerem e em 1978 a Lego lançou os já icônicos bonequinhos (antes a empresa fabricava puramente blocos de montar). Ao contrário da Lego, que já possui fábricas no México e na China, o Playmobil ainda mantém toda sua produção na Europa.
Outra diferença bem marcante entre as empresas são os sets de brinquedos. Hoje em dia dá pra ter Lego de tudo: Star Wars, Batman, Marvel, Indiana Jones, NASA, Piratas do Caribe, Disney, Harry Potter, Senhor dos Anéis… Por isso que o longa Lego Batman é uma das melhores histórias do homem-morcego já feitas: em que outra situação é possível ver Batman e Robin destruindo a torre de Sauron, lutando contra os Daleks de Doctor Who ou enfrentando Voldemort?
Já Playmobil sempre se destacou por seus sets abstratos: o velho oeste, a cidade, medieval, a floresta, pirata, fazenda… Apenas recentemente a empresa fechou um acordo com a Dreamworks para criar brinquedos baseados em suas marcas, lançando conjuntos de Como Treinar Seu Dragão e Ghostbusters. O carro do caça fantasma, aliás, é um dos pouquíssimos easter-eggs de cultura pop que aparecem no filme.
Contando histórias
A presença de elementos conhecidos do mundo pop realmente faz muita falta ao filme. O protagonista passa por diversos “mundos”, podendo considerar cada um como um tipo de set do jogo, mostrado como se passasse exageradamente por algum estilo cinematográfico. O filme pula de um épico medieval a um western, de uma história de espiões a um conto de fadas…
O diretor Lino DiSalvo contou um pouco sobre o processo de criação da história: “Eu literalmente vi meus filhos brincando com Playmobil e coloquei esses elementos no filme.”, disse. E, voltando para a comparação com o Lego: “Para mim, Lego é um brinquedo de construir. Playmobil é um brinquedo de contar histórias.”
Fica fácil discordar dessa afirmação quando se compara as histórias dos dois filme. Em Playmobil, dois irmãos entram no mundo dos brinquedos; logo no começo, o arco de ambos é dividido e eles são separados e a história acompanha Charlie (Gabriel Bateman, sem vínculo aparente com Jason Bateman) e Marla (Anya Taylor-Joy, finalmente fora de um filme de suspense) tentando se reencontrar. “Meus filmes favoritos são sobre famílias tentando se reencontrar”, afirmou o diretor, que já trabalhou como chefe de animação nos filmes Enrolados e Frozen. O enredo é boboca e sem surpresas, chato mesmo para uma história infantil.
Partes móveis
A animação do filme não traz nada de especial. Os bonecos de Playmobil não são particularmente populares por suas diversas articulações móveis e isso tentou ser passado no filme: “Tentamos fazer toda dobra de braço ou perna fora de câmera”, disse DiSalvo.
A própria ambientação do longa não traz absolutamente nenhum desafio para a animação que é competente o suficiente, mas carece de alguma novidade – como trazido por “Lego Movie”, que traz até as explosões em formato de bloquinhos de Lego e uma renderização simulando time lapse, tornando uma das maiores injustiças da Academia o filme não ter sido sequer indicado ao Oscar de melhor animação.
Já a dublagem brasileira é bem fraca nos momentos de live action e suficientemente competente quando em animação. A tradução às vezes parece ter se atrapalhado em algum lugar e dá pra terminar o filme com a ideia de ter perdido algumas dezenas de trocadilhos. Isso dá a ideia de que o longa poderia ser bem mais engraçado do que é. Em alguns momentos, ele consegue arrancar algumas risadas, mesmo de um público mais adulto, mas era esperado muito mais gags e piadas de um filme desse gênero.
Mesmo assim, o filme ainda pode ser uma boa opção para levar as crianças que estão entrando de férias agora. Mas é bom pensar nele como uma propaganda de uma hora e meia pra vender brinquedos: pode ser que a gurizada mude os pedidos na cartinha pro Papai Noel e você seja obrigado a comprar um set de Playmobil para o Natal. O que, honestamente, nunca é uma má ideia. Brincar com Playmobil é legal pra cacete.