Sob as Escadas de Paris
Longe do habitual (e até esperado) hábito do cinema em representar a cidade luz como uma prístina pérola, efervescente em cultura, riqueza, arte e luxo, o filme Sob as Escadas de Paris escolhe um caminho muito mais áspero em direção às duras realidades.
Christine (Catherine Frot), uma idosa moradora de rua da cidade, vive uma vida não muito eventual e ilustra para nós o que é a vida de um sem-teto nesse contexto. Ela se desloca com dificuldade de abrigos temporários a centros de assistência e refeitórios populares e demonstra certa confusão mental.
Seu purgatório de costume muda de forma repentinamente quando seu caminho se cruza com o de Suli (Mahamadou Yaffa), um garoto imigrante perdido nas ruas e que não sabe sequer falar o idioma.
Sob as Escadas de Paris
Christine não pestaneja em afastar Suli, porém este não se abala com a rejeição de Christine e insiste em acompanhá-la por suas peregrinações. Ao secar as roupas de Suli, úmidas pela neve, Christine descobre que a mãe do garoto está em processo de deportação. Estável em sua conhecida miséria, ela reluta em acolher a criança, pois sabe que no mundo das ruas o menino representa uma vulnerabilidade ainda maior que a que ela já vivencia. Contudo, antes que perceba, Christine se afeiçoa a Suli e faz de sua missão pessoal levá-lo ao encontro da mãe, antes que seja tarde.
O filme nos faz olhar com intensidade para algo que passamos a vida ignorando, algo de que desviamos o olhar: as vielas, os becos, as sarjetas, os canais, toda a sorte de não-lugares (como teorizado pelo filósofo Marc Augé) que abrigam seres humanos marginalizados e bestializados.
Dentro desse contexto, é possível refletir sobre como os objetivos principais dos indivíduos da sociedade atual giram em torno do sucesso profissional, acadêmico, financeiro e afins, mas como tais coisas não nos definem como pessoas, nem muito menos definem o valor de nossas atitudes com nossos semelhantes.
Certas questões pairam no ar: qual é o verdadeiro significado de humanidade? O que é ter um legado relevante? E em que escala as nossas conquistas realmente fazem a diferença na vida de alguém? Sob as Escadas de Paris entra em cartaz hoje, dia 14 de outubro.