O Menu

Eu não sabia direito o que esperar quando fui assistir “O Menu“, em uma sessão a convite da “Searchlight Pictures“. Eu só sabia que tinha a Anya Taylor-Joy, o Ralph Fiennes e o Nicholas Hoult, três excelentes atores que eu adoro, mas tanto o roteirista quanto o diretor do filme eram nomes desconhecidos para mim – eles vêm mais do mundo das séries, tendo feito bastante coisa na TV.

Honestamente, eu não sabia nem o gênero do filme, talvez ficasse menos empolgado se soubesse que o filme tem essa pegada de suspense, gênero que eu não sou muito fã.

Acredito que essa ignorância toda foi um grande trunfo para eu ter gostado tanto do filme. Foi uma delícia ir descobrindo os desdobramentos mais tenebrosos junto dos personagens e me ver capturado dentro do climão do filme, que é uma mistura competente de MasterChef com Round 6, muito bem apresentado no trailer da película, que tem seus méritos de não contar nada da história mas estabelecer bem que é esse clima que você vai encontrar vendo o filme. É para isso que um trailer serve, todos os méritos a ele.

Montanha russa de sabores

Certa feita, um conhecido veio contar a história de uma ocasião que ele foi jantar algures, seu drink caiu e ele teve que pagar por outro. Mas não teria sido culpa dele: o drink era preso por um suporte e reabastecido com uma seringa e teria caído porque o garçom veio entregar na mesa uma roda-gigante de coxinhas que teria girado sozinha após ter sido servida.

Houve uma estranha pausa após concluído o relato. Sendo este conhecido um membro da geração Z, e os ouvintes da história um bando de tiozão que ainda faz piada de quinta série, havia vários conceitos muito mais interessantes do que um drinque desperdiçado. Como assim, uma “roda gigante de coxinha” e por que esse não é o ponto central da história?

Era um daqueles restaurantes instagramáveis de São Paulo que fornecem varais de bacon, batatas transparentes, sobremesas esculturais, bebidas moleculares e o escambau. O sabor é quase um detalhe, o que importa é fornecer uma experiência para o cliente.

O chef de “O Menu” claramente se daria muito bem abrindo um restaurante em São Paulo. Paulistas adoram essas bobajadas e estão dispostos a pagar o quanto for por qualquer coisa. Nada é mais irritante do que a popularização das mega-sobremesas que vêm servidas fora do recipiente: canecas de milk shake embebidas em chocolate do lado de fora deveriam soar nojentas, não deliciosas.

O enredo acerta muito quando faz troça dessa cultura: cada prato precisa vir acompanhado de uma história e uma desconstrução. A comida do filme vêm em forma de espuma, gel, texturas, é feita com emulsões, impressões, gotas minúsculas que os clientes hedonistas descrevem como “gosto de oceano”.

O Menu de emoções

Essa situação toda dá um tom de comédia ao filme. Porém, na maior parte do tempo eu estava rindo de nervoso. O filme tem um clima tenso, beirando o absurdo e isso é grande parte da graça dele. O roteiro é todo bizarro e divertidão, mas a direção também é bem competente, tomando seu tempo, estabelecendo um ritmo estranho, onde as bizarrices vão se sobrepondo de forma tão natural que tudo soa estranhamente crível.

As estrelas principais, cujos nomes atraem o público e as fuças ilustram os belos pôsteres, brilham tanto quanto se espera delas e é uma delícia assistir às atuações. Os demais personagens “secundários” são muitos, mas todos são explorados em maior ou menor nível. Ao final da refeição, é possível ter sentimentos mais ou menos complexos sobre cada um deles, seja sobre os demais clientes, seja sobre os demais funcionários do restaurante. É mais uma vez mérito do roteiro, que consegue trabalhar tantos personagens e tantas histórias simultaneamente e ainda criar todas as situações de tensão.

Tudo isso faz o filme passar como uma belíssima refeição, permitindo ao público saborear cada prato. Tenso, engraçado e delicioso, podem pedir o menu completo.