Noite Infeliz
Há uma categoria bem particular de filmes conhecida como “filmes de natal“. Tal qual os tais “filmes de herói”, este não é um gênero em si, apesar da tendência cinematográfica de fazer comédia romântica com o tema. Porém, tal qual os filmes de herói, dá pra fazer filme de natal de qualquer gênero: comédia, drama, animação… Inclusive filme de natal de herói (e vice-versa), como Homem de Ferro 3. Já “Noite Infeliz” (tradução decente de “Violent Night”) é um filme de natal de ação.
Não só isso, mas o protagonista dessa ação toda é simplesmente o próprio Papai Noel.
Ho ho ho
Quando a gente pensa que o Papai Noel é um personagem sem direitos autorais, ele de repente começa a parecer muito sub-aproveitado. Os direitos do Pinóquio expiraram este ano e do nada já vai ter um filme do Guillermo del Toro em stop-motion com ele. Já tem filme de terror com o Ursinho Puf com o lançamento engatilhado, só esperando os direitos dele se tornarem públicos.
Espero que “Noite Infeliz” seja o pioneiro de novas interpretações desse personagem natalino. Já quero ver filmes onde o Papai Noel seja vilão, onde ele tenha que enfrentar aliens, Papai Noel cowboy, o que vier é lucro. Isso porque a versão dele no filme é sensacional: um velho cansado e bêbado que tá de saco cheio de sair por aí entregando presentes e se vê no meio de um roubo na mansão de uma família esnobe.
Ele tem tudo o que Papai Noel merece: um trenó com renas revoltadas, um saco mágico que cospe presentes, uma lista de quem foi bonzinho e quem foi malvado, super-poderes para passar pelas chaminés e muita raiva no coração.
Noite Infeliz da Família Kent
Os outros personagens do filme não são tão marcantes, mas têm lá seus momentos. A família de esnobes acaba lembrando muito os personagens da série Succession: ricos, odiosos e lutando pelo poder de uma companhia qualquer. A criança (inevitável) não irrita tanto quanto poderia e tem até divertidos momentos evocando o clássico “Esqueceram de Mim“.
E são, inclusive, esses momentos mais “auto-conscientes de si próprio” que elevam o filme, afinal se ele mesmo não se leva a sério, por que o público deveria? Então dá pra relaxar e aproveitar o banho de sangue que fatalmente chega: crânios amassados, cabeças cortadas e corpos dilacerados.
O material promocional do filme não faz jus à violência que ele exibe: o filme se vende como uma comédia, mas o engraçado dele é justamente o uso de tantas imagens natalinas em uma carnificina.
Super Noel
E funciona também porque David Harbour está muito bem como Papai Noel. Eu já saí do cinema querendo uma continuação do filme e querendo que o personagem virasse canônico da Marvel. É a versão mais adulta do bom velhinho desde aquela capa da Playboy em 2000, em que ele tenta desnudar os peitos da Carla Perez.
E que venham mais filmes natalinos para adultos revoltados, eu não sabia que precisava tanto de um entrenimento assim.