Tár
Antes de entrar na sala de cinema, uma das pouquíssimas coisas que eu sabia sobre Tár (do original “Tár”, graças a deus sem subtítulo, seria muito fácil chegar ao Brasil com o nome “Tár: Compondo Sonhos, Maestrando Pesadelos”, ou qualquer paspalhice do tipo), era de que Cate Blanchett protagoniza o filme de forma magistral, colocando ela na lista das concorrentes a prêmios de melhor atriz na atual temporada de premiações.
Saindo da sala de cinema, não havia muito mais que eu soubesse do filme, além da realmente onipresente atuação de Cate Blanchett se destacando em todas as cenas. E, claro, eu era uma pessoa muito mais confusa.
Tár, que Tár
É difícil até mesmo dizer qual o gênero do filme. São vários filmes em um, todos muito bons, mas propositalmente arrastados. Essa é a minha primeira crítica ao filme (de longe minha crítica maior à maioria dos filmes lançados nos últimos cinco anos): ele é longo demais. Seria fácil cortar meia hora dele e um pouco mais difícil, mas ainda vantajoso, cortar outra meia hora.
Claro que esse clima arrastado e lento é proposital – e dá até um ar meio perturbador à obra, que evidentemente é o que a produção queria passar mesmo.
Isso porque a gente vai acompanhando a vida da tal da Tár, vendo como ela é uma artista absurdamente genial e também completamente maluca. Doidona. Lelé das ideia. Tiktok da cabeça. Desmiolada. E ela vai se perdendo dentro de si e fica cada vez mais difícil defendê-la.
Separando a Tárte da Tártista
No fundo, um dos temas do filme, explorado desde o começo (há uma cena durante uma aula da protagonista, filmada em um espetacular plano sequência muito bem dirigido, cuja temática é exatamente essa) é a questão de ser ou não possível separar o artista da obra. Tá tudo bem eu gostar da música de umas bandas compostas por imbecis? É ok eu rir da piada de um humorista meio polêmico? Eu posso gostar de assistir a atuação de um ator que é um escroto? Se você acha uma pessoa meio transfóbica, mas ela criou um mundo foda de bruxinhos em escolas, dá para continuar curtindo os livros e ainda achando ela meio transfóbica? Tem algum problema eu ler a crítica cinematográfica de um cara que acha “Last Jedi” o melhor Star Wars de todos os tempos?
Não há respostas para a questão, ainda bem. Não é expôr uma opinião que o filme quer, é colocar a dúvida no coraçãozinho de cada um dos espectadores. Esse é um dos motivos que vai fazer o desavisado público sair meio confuso do cinema: eu vou ter que pagar ingresso e ainda pensar?
Show off de Cate
Esse dilema tá lá, bem colocado na obra. Mas no final quem carrega o filme nas costas mesmo é Cate Blanchett. Tocando pelo menos cinco pianos diferentes e regendo uma orquestra melhor que o Maestro Zezinho, ela prova que é realmente uma excelente atriz, não é só uma pessoa alta.
Além de cumprir maravilhosamente esse arco de jokerização da personagem jogando questões filosóficas ali no meio. Tár é arrastado, mas é bom. E prova que nem todas as lésbicas vão para o céu.