A Viagem de Pedro
O filme “A Viagem de Pedro” começa com uma estátua de Napoleão. A imagem faz sentido: foi ele o responsável pela fuga da família real ao Brasil, gatilho para o início do período histórico conhecido como “Brasil Império”, que estabeleceu o país como a gigantesca nação de proporções continentais que ainda somos, culminou com a independência e pouco depois o retorno do Imperador Pedro I para Portugal para destronar o próprio irmão, Miguel.
Dentre tantas coisas ridiculamente interessantes que aconteceram nesse período, o filme escolhe focar apenas na palavra “retorno”.
O cara viaja
Nada contra um ultra-foco em um trecho tão minúsculo de uma história tão ampla – honestamente eu até prefiro. Mas o filme parece se perder em seu contexto histórico. Na própria cena de Napoleão, Pedro alega que D. João era um grande admirador do comandante francês, o que não faz muito sentido na própria história. O oposto, inclusive, seria mais verossímil, uma vez que nas memórias que escreveu enquanto esteve preso em Santa Helena, Napoleão se refere ao rei português como “o único que me enganou”.
Sem saber o que fazer com o curtíssimo período de tempo que se dispõe a referenciar, o filme usa alguns artifícios preguiçosos para contar a história passada da vida de D. Pedro: alucinações. Ele realmente tinha epilepsia, então o roteiro aproveita esses momentos para trazer flashbacks da família real. Nesse ponto a “viagem” da qual o título se refere é mais figurativa do que literal e Pedro viaja à beça.
Cosmopolita
Mas a obra é até competente e, tal qual a própria família real portuguesa/brasileira, devidamente internacional. Com cinco minutos de filme, eu já tinha ouvido alemão, português, francês e inglês. Meter o filme todo em um barco deve ter sido um trabalho difícil para a fotografia, que constantemente quebra a regra dos 180 graus e se perde. A dimensão de tela é apertada, provavelmente para ampliar a impressão claustrofóbica do cenário.
Cauã Reymond é o grande protagonista do filme. Seu coração interpreta o coração de D. Pedro (que parece muito relevante nos tempos atuais) e seu pênis interpreta a piroca do imperador (que parece muito relevante no roteiro do filme). Mas no geral ele manda bem interpretando um D. Pedro, mesmo que nunca chegue aos pés de Marcos Pasquim em “O Quinto dos Infernos“.
Pedrinho, meu menino
Sendo esse período histórico brasileiro o meu favorito, me resta a vontade de vê-lo mais vezes retratado no cinema, ou TV, ou teatro, ou livros, ou o que seja. É uma pena que “A Viagem de Pedro” se perca um pouco no meio de tanta viagem e acabe caindo mais num novelão do que em um retrato histórico.
O seu excelente timing de lançamento deve ajudar, já que é o que a gente tem pra assistir para relembrar os 200 anos de independência. Não é o ideal, mas tá bom.