Adam, premiado longa marroquino
O filme franco-marroquino Adam chega ao Brasil via Arteplex como mais um exemplar do moderno cinema africano. Dirigido pela promissora Maryam Touzani (Primavera em Casablanca), o foco aqui é na entrada de Samia (Nisrin Erradi), uma jovem grávida procurando trabalho e um lugar para ficar, na vida de Abla (a ótima Lubna Azabal, de Rede de mentiras), uma viúva vendedora de pães, e de sua pequena filha Warda (Douae Belkhaouda).
O ambiente é bastante familiar ao público brasileiro afeito às mazelas da cidade grande: ruas apinhadas de gente, pessoas sem casa e sem emprego estável, clima abafado… em resumo, a sensação de proximidade é intensa. E isso se exacerba então a partir dos enquadramentos propostos: câmeras fechadas e irritadiças quase o tempo todo em closes dos personagens. Assim exigindo um elenco qualificado, que dê conta de passar as emoções pelos rostos suados e cansados.
A trama em si não tem coisa alguma a ser sugerida por baixo da tela: as provocações e mudanças de estado no cotidiano de Abla provocadas por Samia vão sendo expostas, uma após a outra, com começo, meio e fim; o espectador tem tempo de elaborar as novas situações e acompanhá-las até seu fechamento. O ritmo narrativo não acompanha o frenético da captação das imagens, assim podemos digerir o que vemos com calma.
Adam
E aqui o filme tem seu maior problema: a dada altura, habituados que somos ao prolífico cinema social africano, quase que desejamos algo surpreendente ou inesperado, e essa esperança se mantém durante todo o filme, e algumas pessoas poderão ser satisfeitas quase ao fim. A proposta é registrar uma história que é, em si, bastante comum – e há poucas ousadias ao longo dela.
O que há de mais saboroso, entretanto, é o que é de fato marroquino – as comidas típicas (o msemmen dá até água na boca); a corte a uma mulher solitária… E como talvez único elemento mais chocante a nós: o destino inevitável e infeliz de mães solteiras e seus filhos em uma sociedade fortemente machista, e como isso é inquestionável e está entranhado nas próprias mulheres.
Um filme que põe tudo às claras durante todo o tempo mas que, entretanto, poderá parecer pouco surpreendente: este é Adam. Em cartaz a partir de 14 de novembro.