Albatroz, uma experiência sensorial no cinema
Albatroz é um filme que apresenta descobertas recentes da neurociência para tecer uma trama de suspense que ultrapassa as fronteiras entre a realidade, o sonho e o delírio.
O fotógrafo Simão (Alexandre Nero) é casado com Catarina (Maria Flor), mas se apaixona pela atriz Renée (Camila Morgado), com quem viaja a Jerusalém. Ele acaba registrando um atentado terrorista, o que o deixa mundialmente famoso. Contudo, o que ele não esperava é que surgiriam críticas negativas por ele ter fotografado em vez de tentar evitar a tragédia. Isso fará com que ele fique em depressão, misturando a realidade, o sonho e possíveis conspirações.
O teatro do inconsciente
Seu cérebro afeta completamente sua percepção. Suas memórias e a sua realidade podem ser editadas, reeditadas e reinterpretadas. Além disso, Simão é sinestésico, ou seja, enxerga cores de acordo com os sons que ouve. Essa característica permite com que ele auxilie sua esposa compositora de jingles a escolher as melodias que mais combinam com os produtos anunciados.
Entretanto, Catarina está desaparecida e todas as memórias de Simão estão misturadas. Passado, presente e futuro estão brigando dentro de sua cabeça. Percepção? Realidade? Albatroz vai mexer com a sua cabeça! A realidade e a imaginação se confundem a cada instante. Simão está em transe e sua vida pode mudar para sempre.
O deleite do horror
Além de estar em constante transição de cenários, Simão irá passar pelo experimento de fotografar sonhos, mas essa ideia pode se tornar um enorme pesadelo. Uma antiga namorada, Alícia (Andrea Beltrão), reaparece e não se dá por vencida. Mesmo com o antigo amor casado, ela investe de forma pesada no fotógrafo, o envolvendo em uma experiência de neurociência junto à Doutora Weber (Andreia Horta).
Simão então vira cobaia desse experimento pioneiro capaz de registrar sonhos, e se vê em meio a crimes graves. Mas já não consegue saber se são reais ou criados por seu subconsciente. O que fizeram com Simão?
Cada um com a sua verdade
Com uma atmosfera de sonho, Albatroz é uma experiência sensorial e sensacional para o cinema brasileiro. O roteiro é recheado sobretudo de uma lógica paraconsistente, onde todas as coisas podem ter valores além do verdadeiro e falso, tais como indeterminado e inconsistente. Afinal, o nosso cérebro está alucinando o tempo todo. Quando muitos alucinam a mesma coisa, aquilo se torna real. Louco, não?
Assim, com muitas pitadas do cinema de David Lynch, Daniel Augusto (diretor) e Bráulio Mantovani (roteirista) criaram uma história que ultrapassa os limites das narrativas. Se é que há limites no cinema, certo? O filme também traz à tona o debate sobre a questão ética da fotografia. Até que ponto um fotógrafo deixa de ser ético ao registrar um ato de violência? Mas, convenhamos, este não é o foco do filme. Na realidade, Albatroz quer mexer com nossas sensações e nos deixar atônitos a cada cena.
Conseguimos perceber bastante influência de Lynch, desde o uso das cores, quanto das músicas e até particularidades como a famosa fala invertida de Twin Peaks. Há também um pouco de Terry Gilliam com toda a sua loucura surrealista, sobreposição de imagens e cortes rápidos.
Albatroz e a neurociência
Algo que me saltou aos olhos foi o nome do hospital que Simão entra em determinado momento do filme. Hospital Phineas Gage. De curiosidade, anotei o nome, para depois descobrir que Phineas Gage foi um operário que, num acidente com explosivos, acabou atingido na cabeça por uma barra de metal. Seu cérebro foi perfurado, mas surpreendentemente, Gage sobreviveu.
Sua história foi muito marcante na área da neurociência porque com a perfuração, seus lóbulos frontais foram atingidos, o que fez com que a personalidade de Phineas Gage mudasse completamente. O caso de Gage é considerado uma das primeiras evidências científicas que indicam que a lesão nos lóbulos frontais pode alterar a personalidade, emoções e a interação social. Antes disso, os lóbulos frontais eram considerados estruturas sem função e sem relação com o comportamento humano.
Agora imagine tudo isso na tela do cinema! Albatroz entra em cartaz dia 07 de março e eu recomendo muito essa experiência nas telonas!
https://www.youtube.com/watch?v=1PjJhEzDpy4