As primeiras férias não se esquece jamais!
Um filme de proposta interessante, As Primeiras Férias… se sai bem durante praticamente todo o tempo. Buscando alcançar um equilíbrio entre a comédia de situações e o ritmo do cotidiano de um casal francês que está se conhecendo e compartilhando sua intimidade durante uma semana de férias na Bulgária, o diretor Patrick Cassir concebe uma narrativa divertida na qual o espectador consegue se ver em vários momentos. Entretanto, ao cair no conservadorismo no final da trama, o longa acaba por falhar.
A história gira em torno de Ben (Jonathan Cohen) e Marion (Camille Chamoux), os dois na casa dos trinta a quarenta anos, que se conhecem num aplicativo de relacionamentos; logo no primeiro encontro se envolvem e, ao perceberem que se gostaram mas que sairão cada um para um destino diferente de férias, assim, tomam a decisão de, impulsivamente, repensar e partir juntos para um terceiro destino, a Bulgária.
A escolha pelo país dos Bálcãs é acertada no roteiro. Sem tanta estrutura turística, permite que o casal exercite a intimidade um com o outro em situações que expõem as diferenças entre eles. Ben, de família estável, é um tanto asséptico, encanado com muitas coisas e pouco solto. Já Marion é libertária e muitas vezes imprevidente. Mas o relacionamento se sustenta enquanto Marion e Ben riem; e o riso é, para quem assiste, o sinal manifesto de duas pessoas que se gostam. Ou seja, uma opção acertada de condução do casal ao longo do que assistimos.
As primeiras férias não se esquece jamais!
Passando por ambientes em que Marion está mais à vontade (locais rústicos e sem recursos), Ben sofre, mas busca se adaptar, trilhando o inevitável caminho da transformação. Já em situações em que Ben está na zona de conforto (hotéis caros e jantares sofisticados, por exemplo), é Marion que tem que lidar com a luta por acomodação emocional.
Aqui está, contudo, a falha do filme: ao pintar um Ben que se empenha por assimilação, a narrativa se torna condescendente com ele. Já Marion é retratada como intransigente e mais arredia em entender o mundo do companheiro de viagem. Certamente, um quadro que exala machismo.
Algo de clichê aqui e ali
Eventuais violências contra Marion receberão como resposta da personagem uma capacidade de perdoar pouco crível a alguém de personalidade tão forte como a citada acima. Além disso, Boyan, um funcionário de hotel búlgaro, ao prometer ser um elemento de reequilíbrio nas tensões entre o casal, acaba ao fim adotando uma postura que soa desnecessariamente fútil e moralista, o que é uma pena, pois é um personagem que poderia dar muito mais se a direção não parecesse ter receio da visceralidade na conclusão da trama.
Por fim, o que fica é a sensação que você também experimenta ao completar uma comédia adolescente americana dos anos 80: um ambiente clichê e conservador, de papéis definidos previamente pelo contexto cinematográfico oitentista (influência manifesta de Cassir). Um desperdício pois, de fato, os movimentos iniciais dos personagens são ricos. As Primeiras Férias estreia hoje nos cinemas.