Assassino por Acaso (2024)

Richard Linklater, ao comandar obras como Boyhood (2014) e Escola do Rock (2003), já se provou um diretor extremamente versátil e competente. Agora, com Assassino por Acaso, seu talento é confirmado em um filme que, à primeira vista, parece ser uma simples comédia. Mas que é muito mais.

Nele, acompanhamos a vida do protagonista Gary Johnson (Glen Powell), um professor universitário de filosofia e sociologia que, nas horas vagas, faz bico ajudando a polícia com escutas e aparelhos tecnológicos. Gary é uma pessoa tímida, que não tem muito tato social. Desinteressante, até. Mas quando, no meio de uma operação, o policial Jasper (Austin Amelio, o Dwight de The Walking Dead) é suspenso, Gary precisa substituí-lo como assassino de aluguel e, surpreendentemente, manda muito bem. Continuando com essa função, o protagonista, sob a persona de um assassino, acaba se envolvendo com Madison (Adria Arjona), uma mulher que sofre de um relacionamento abusivo e “contratou” seus serviços para eliminar o marido.

Não tem como começar a falar deste filme sem exaltar o casal de protagonista. Glen Powell está na cena hollywoodiana há mais de 20 anos, mas só recentemente está tendo o destaque que merece. É hilariante acompanhar suas diversas facetas como assassino. Já Adria Arjona também dá um show interpretando uma Madison se libertando de um relacionamento tóxico, sendo impulsiva e apaixonada. Muita gente criticou a química entre Powell e Sydney Sweeney em Todos Menos Vocês (opinião que não compartilho, adorei os dois no filme e nas entrevistas), mas em Assassino por Acaso, isso sequer será levantado em discussão. Powell e  Arjona transbordam uma tensão sexual que pode ser sentida até na cadeira do cinema.

O roteiro, baseado em uma história real (com muitas aspas), é co-escrito por Linklater e Powell e brinca com conceitos psicanalíticos, sobre a mutabilidade do ser e o quanto a forma que os outros nos enxergam afetam o nosso ambiente. Além disso, o filme não busca apresentar protagonistas perfeitos. Temos diversas atitudes imorais e duvidosas vindas da dupla principal, fugindo dessa recente nova onda de que filmes e livros devem ser sempre moralmente corretos ou acabar em uma lição de moral.

No fim, temos um filme inteligente, com ótimas atuações, cômico e também reflexivo, que nos leva a pensar em quem gostaríamos de ser e porquê não tentar se tornar essa pessoa.