Beatriz: Entre a Dor e o Nada, com Marjorie Estiano

Um casal brasileiro se muda para Lisboa após uma história difícil. Ele, Marcelo, escritor, passa a escrever pequenos contos eróticos numa revista portuguesa. Enquanto isso, ela, Beatriz, advogada, larga tudo, o acompanha e consegue emprego num escritório. Em terras europeias, Marcelo é abordado por um proeminente editor espanhol, que o compele a escrever um segundo romance sobre amor intenso.

O primeiro livro foi o motivo das sérias dificuldades no relacionamento. Já este romance pode levá-lo ao estrelato como ficcionista. Os problemas que tiveram então ameaçam se repetir. Ele precisa de uma musa, e Beatriz cogita a possibilidade de se aventurar em jogos eróticos para inspirá-lo, o que já havia ocorrido antes na vida do casal e a transtornado.

Marjorie Estiano e Sérgio Guizé em Beatriz
Marjorie Estiano e Sérgio Guizé

O que esperar

O filme tem uma premissa bastante interessante, mas começa mal. Os primeiros trinta minutos têm cortes que criam lapsos de tempo e de ação que dificultam a nossa sintonização com os personagens. É como se houvesse pressa para que a história chegasse logo à melhor parte, que é o enfrentamento do casal principal às emoções poderosas da paixão, do amor e do sexo. Aí o filme melhora bem.

Alberto Graça (de O Dia da Caça) coloca elementos que remetem à coisas mais óbvias como A Dama do Lotação e os filmes pornochic dos anos 80 (9 1/2 Semanas de Amor, Orquídea Selvagem, Emanuelle), impregnados de objetificação, muitas vezes travestida de empoderamento feminino. Veja a cena final entre Beatriz e Marcelo, como por exemplo. Filmes que fizeram a festa dos adolescentes que assistiam à Sexta Sexy, nos anos 90, na TV Bandeirantes (Shannon Whirry nunca mais saiu da minha cabeça em obras como Fatal Pursuit ou Malícia em Videoteipe).

Mas o mais interessante, me parece, é o nome do personagem principal. Doutor Marcelo é uma figura recorrente na obra de Walter Hugo Khouri.  Este é o cineasta que ditou o rumo do cinema brasileiro nos anos 70. Transformou-o numa pobre enxurrada de filmes eróticos e trash, exageradamente poluindo-os do que havia de possibilidade de leitura machista na obra de Nelson Rodrigues. De todo modo, o filme não tem coragem de cair de cabeça no erotismo. Assim, a classificação indicativa baixou um pouco.

Beatriz

Beatriz é um filme machista?

Bom, a parte mais interessante é aquela em que a mulher precisa lidar com a entrega erótica em nome do companheiro. Marcelo sofre a seu modo, mas é difícil para um heterossexual cisgênero masculino (eu) conseguir me ausentar de minha própria educação de privilégios e cravar que sim ou não. Se optarmos por uma leitura poética, de que não estamos, nenhum de nós, prontos para lidar com a potência do sexo, sobra uma discussão legal, mas que foi melhor trabalhada, por exemplo, em Henry & June (1990). Um destaque, entretanto, às cenas do teatro: são interessantes e dialogam legal com o resto do filme.

Quanto ao elenco, Sérgio Guizé é tão chocho que todo o foco de atenção cai sobre Estiano; os atores europeus não contribuem muito e alguns personagens poderiam até mesmo não estar ali. E sobre Marjorie, ela se esforça e está correta; suas escolhas de trabalho a impulsionaram para longe do seu início de carreira, em Malhação (2005). Deu resultado: ninguém mais lembra daquilo. Exceto eu.

Beatriz

Nome Original: Beatriz: Entre a Dor e o Nada
Direção: Alberto Graça
Elenco: Marjorie Estiano, Sergio Guizé, Beatriz Batarda, Margarida Marinho
Gênero: Drama, Romance
Produtora: Filmes do Tejo
Distribuidora: Anagrama Filmes
Ano de Lançamento: 2015
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