Dark Waters – O Preço da Verdade
Jogo de panelas
Ao contrário do que o título original sugere, o filme Dark Waters não é sobre o fornecimento de água no Rio de Janeiro. Ao contrário do que o não-tão-ruim-quanto-parece-a-princípio título em português O Preço da Verdade sugere, também não é sobre o sistema de delações premiadas da Polícia Federal.
Dark Waters – Teflon pra que te quero
Houve uma época da humanidade que as nossas mães (antes do feminismo ser inventado, as únicas pessoas com permissão de cozinhar eram as mães) tinham que jogar fora a frigideira após fritar um ovo. Ou seja, eram tempos difíceis. Até que em 1938, um grupo de cientistas que estava trabalhando em alternativas para gases refrigerantes criou por acidente o politetrafluoretileno, que viria a ser conhecido como Teflon. O filme também não é exatamente sobre essa história. Mas é por aí… é outra história, um pouco mais perto da atualidade.
No começo do filme, lá no longínquo final da década de 90, o Teflon já era produzido e vendido pela gigantesca Dupont, a segunda maior empresa química do mundo em termos de volume de capital. Assim, essa história é daquelas de um homem lutando sozinho contra um poderosíssimo conglomerado empresarial.
A balada de Bob Bilott
Estrelado e produzido por Mark Ruffalo, o Hulk, a história consegue por pouco escapar de um enfadonho juridiquês absoluto. Assim, o roteiro, baseado neste artigo da New Yorker sobre o advogado Robert Bilott e sua cruzada de quase uma vida inteira contra a gigante química é, em sua grande parte, totalmente verídica.
Por conta disso, durante diversos momentos do filme fica a impressão que essa seria uma história que cairia melhor se fosse contada como um documentário, incluindo opiniões de especialistas e animações explicando processos químicos complexos e respondendo perguntas do tipo “se nada gruda no Teflon, como o Teflon gruda na panela?”. Mas a história escolhe um caminho menos didático e mais dramático.
O que ainda é um tanto quanto desesperador, já que o filme ataca com fúria a onipresente Dupont. Aparentemente a empresa é responsável por causar câncer, tosse e enlouquecer animais. É perfeitamente compreensível ao espectador cuspir a pipoca, sair do cinema e jogar todas as panelas no lixo e viver de churrasco em grelha e ovo de microondas. O resultado final, porém, é parecido com a caligrafia do Mark Ruffalo: meio longo demais, não muito bonito, e as partes difíceis de entender podem ser perfeitamente deduzidas pelo restante do contexto
A química do elenco
Com um elenco forte, ninguém destoa. Todos estão muito bem e só a Anne Hathaway parece um pouco subutilizada, com seu arco aparentemente abandonado em algum momento. Mas com certeza, os personagens reais vão perdoar isso, já que eu só consigo imaginar a marra desse advogado e da sua esposa por terem sido interpretados no cinema pelo Mark Ruffalo e Anne Hathaway. Como deve fazer bem pro ego um negócio desses.
Não é esperado por ninguém que o filme seja um sucesso de bilheteria ou sequer um clássico cult. Mas é interessante conhecer a história do processo contra a Dupont, nem que seja pra ter assunto numa open house ou virar um daqueles chatos de tumblr. “Não, não uso panela de Teflon. Assiste Dark Waters que você vai entender.”
Da minha parte, eu troco um câncer nos testículos por fazer ovo frito sem óleo e uma panela fácil de lavar. Mas não sou alguém que você deveria levar a opinião em consideração. O que é meio tarde demais pra avisar ao leitor que acabou de ler este texto.