Encontros

O diretor Hong Sang-Soo (A Mulher que Fugiu) nos traz de volta ao seu universo privado, que se manifesta aos nossos olhos através do interesse nas relações afetivas. E agora, ele impulsiona a narrativa sobre momentos de encontros e reencontros com uma estética nouvelle vague, em preto e branco, num filme curto dividido em três episódios.

Encontros

No primeiro, um jovem deseja visitar seu pai, que é médico, e com quem tem um relacionamento frio e distante. Enquanto pede que sua namorada o espere durante o tempo em que ele vai ao consultório do pai, ele tem uma conversa sensível com a secretária do consultório.

Ocorre então um lapso de tempo, e passamos a acompanhar a trajetória de sua então namorada, estudante, em viagem a uma outra cidade a fim de buscar um lugar para morar, e nisso encontra uma artista mais velha que aceita dividir o apartamento com ela. Neste ponto, temos uma conversa bem legal da garota com a mãe.

Finalmente, na última parte, assistimos a uma outra interessante conversa num restaurante entre o jovem da primeira parte, um acompanhante seu, sua mãe e um ator (presente na primeira parte, também). Nesta, discute-se, entre outras coisas, bebidas e escolhas do protagonista.

Encontros

Os vínculos

Mais um filme em que lacunas de tempo são exibidas sem maiores explicações ou avisos. Enquanto proposta, exigirá, nesse caso, que nos concentremos na trama para que, ao fim, tudo se entenda. E, então, a beleza do filme se desvendará: o que ocorreu com a namorada da primeira parte, o relacionamento da mãe na última parte, e a presença do amigo do personagem principal no fim. Em todos os momentos, o jovem casal do início amarra tudo, e é aqui que notamos o foco principal de Sang-soo.

Sim, ele não está preocupado com os desencontros ou com rompimentos, e sim com o esforço humano em criar e/ou manter seus vínculos. O tempo e a evolução dos acontecimentos não facilitam essa empreitada, e assim todos esses vínculos são construídos “como dá”: ficam imperfeitos e incompletos, mas são humanos, e é o humano que atrai o diretor.

Aliás, convido a você para que acesse outras obras dele: além do já citado A Mulher que Fugiu (2020), eu recomendo A Câmera de Claire (2017) e Na Praia à Noite Sozinha (também de 2017): procure reconhecer a assinatura do cineasta.

Um filme sensível

Encontros é um filme curto, de pouco mais de uma hora. Sua estética em preto e branco abafa um pouco os ambientes e deixa tudo levemente opressivo: uma opção para deixar tudo mais carregado sem descambar para os recursos óbvios para esse fim. É um acerto e realça a plasticidade do atual cinema coreano.

O que se pode esperar de Sang-soo daqui para frente? Uma experiência maior na construção do ritmo geral, para que propostas de metragem mais longa não caiam no cansaço ou na autoindulgência. Neste filme, sessenta e seis minutos não permitem estes problemas: temo que, numa abordagem mais longa, um “quero ser Goddard” possa descambar para um “quero ser Tarkovsky” (afinal, ser o genial realizador russo é só para o Tarkovsky, mesmo).

Se você busca um novo Wong-kar Wai, você literalmente “encontrará em Encontros um diretor com matizes diferentes, mas com uma sensibilidade aguçada. Poderá ser uma boa descoberta.

Encontros

Nome Original: Introduction
Direção: Hong Sang-soo
Elenco: Seok-ho Shin, Mi-so Park, Young-ho Kim
Gênero: Drama
Produtora: Jeonwonsa Film
Distribuidora: Pandora Filmes
Ano de Lançamento: 2021
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