Juntos (2025)

Horror corporal para discutir como nos relacionamos amorosamente.

Usando horror corporal como metáfora (bebendo muito de Cronenberg), o filme constrói gradualmente sua tensão, apesar da agonia ser constante.

Em “Juntos”, acompanhamos um casal que se muda para o interior e que, após beber a água de uma misteriosa caverna durante uma trilha, se depara com uma espécie de força sobrenatural que ameaça sua relação e seus corpos.

As situações envolvendo essa aproximação literal vão se tornando cada vez mais absurdas, gerando um desconforto que é comum ao gênero, quando bem feito. Mas apesar das semelhanças com “A Substância” – um body-horror que se destacou recentemente -, Juntos não é tão gráfico. Temos, sim, várias cenas incômodas e até repulsivas, mas muitas vezes o corte vem antes de algo mais sangrento ou nojento aparecer, e acredito que isso acontece porque o elemento emocional também está muito presente. Além de simplesmente mostrar o absurdo como crítica, o longa também destaca a psique dos personagens se deteriorando com o avanço da trama, e o fato dos atores principais (Dave Franco e Brie Larson) serem um casal na vida real, torna todo seu envolvimento no filme mais real. Em momentos mais íntimos, vemos como eles realmente tem química e parecem, de fato, um casal. Mas a dupla está tão bem no filme que ver eles distantes e com sintonias diferentes, principalmente na primeira parte, também se torna um exercício interessante de acompanhar.

Algumas situações beiram o cômico, podendo levar o público a dar aquela “risada de nervoso”, mas é curioso como isso não atrapalha em momento nenhum o peso dramático ou a tensão da história. O diretor, Michael Shanks (em sua estreia cinematográfica), consegue pautar com precisão o ritmo do filme, e usa de planos mais abertos para destacar o desconforto emitido. Como um todo, ele consegue construir uma experiência de terror diferenciada e que foge dos padrões do gênero.

O terceiro ato do filme não agradou muito os críticos, pois consideraram muito expositivo e explicado. Apesar de concordar com a afirmação de que, principalmente no terror, nem tudo precisa ser explicadinho ou desenhado para o espectador (vide o recente e excelente “A Hora do Mal”), considero as informações trazidas ao final do filme um complemento à trama. Pelo menos para mim, mistérios continuam existindo ao redor da “junção” de pessoas e da religiosidade trazida. E acho até interessante para a discussão. Desde criança, somos imbuídos com a ideia de que há uma “alma gêmea” por aí. Alguém que nos complete e que não conseguiríamos viver sem. As metades da laranja.

Levando tal ideia a um patamar que beira o absurdo, permitimos nos indagar se realmente é assim que uma relação amorosa deveria ser vista. Necessitando, a todo momento, da validação completa do outro, não conseguindo ficar distante (literalmente e metaforicamente), em uma espécie de codependência ou simbiose, onde apenas nos sentiríamos completos se nos tornássemos um.

Por fim, temos um filme que cumpre seu papel em causar desconforto no espectador, com atuações sólidas e uma boa direção, mas que principalmente usa de forma acertada seu subgênero como metáfora para discussões sociais e psicológicas.

Nome Original: Together
Direção: Michael Shanks
Elenco: Dave Franco, Alison Brie
Gênero: Terror, Body-Horror
Ano de Lançamento: 2025
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