Kursk – A Última Missão, um thriller dramático

Em 12 de agosto de 2000, o submarino de ataque a propulsão nuclear K-141 Kursk, com apenas seis anos de uso e tido como um dos mais poderosos já fabricado, afundou a uma profundidade de apenas 108 metros no Mar de Barents, pertencente ao Oceano Ártico. Famoso por ressuscitar o medo de Chernobyl e pela inoperância e sucateamento militar russo, o incidente causou assim, forte repercussão mundial.

E é esse o mote para Kursk, filme de Thomas Vinterberg (do excelente A Caça), em projeto apadrinhado por Luc Besson, que busca trazer à geração dos millenials a tensão tardia de uma outrora assustadora Guerra Fria; nesse quesito, vai na esteira de Chernobyl, a popular série da HBO e, por que não, é impulsionado por ela.

Kursk – A Última Missão

O romanceamento ficcional está presente, muito por conta do roteiro de Robert Rodat (O Resgate do Soldado Ryan). Enquanto a esposa do oficial Mikhail Kalekov, na noite anterior ao incidente, adormece dizendo “Boa noite, meu amor”, aquele replica com um “Boa noite, minha eternidade” (o casal é vivido por Matthias Schoenaerts e Léa Seydoux), num tom premonitório; o olhar perdido do filho de Kalekov ao ver o pai submergir na fatídica última viagem do submarino; o foco no heroísmo de bravos marinheiros com seus próprios códigos de honra, são elementos forjados para inevitavelmente trazer o espectador para uma cumplicidade com a história que será contada. Entretanto, o próprio filme sabota essa tentativa, como explico logo mais.

Kursk

Vinterberg é bom com as imagens: o zarpar do Kursk sob a despedida alegre das crianças no estaleiro de Severodvinsk (certamente cabe uma comparação com Titanic), e o alargamento do plano de visão sob a imersão do gigante nas águas geladas que remetem à escola russa de cinema (ora, que coincidência) nos fazem acreditar que estamos diante de um diretor com vontade de ser autoral, a despeito da demanda em contar uma história real e com final conhecido.

Sem muitas surpresas

O elenco, que conta também com o highlander Max von Sydow (já envelhecido desde que era o favorito de Bergman) e Colin Firth, chamado para dar o típico semblante de um inglês britânico à trama, é conduzido de uma forma que gera um ar acadêmico ao todo. Sendo assim, fica infelizmente a sensação de que falta algo.

Conjecturo. Talvez seja a falta de um certo espírito na condução, o que nos impede de uma conexão ainda maior com as agruras dos tripulantes e de suas famílias. Quando começamos a ficar abafados e desconfortáveis na cadeira com o ambiente claustrofóbico do submarino afundado, de onde assistimos a luta por sobrevivência dos militares, somos “resgatados” à terra firme, acompanhando as decisões políticas e as famílias em espera abnegada.

Kursk

Esses deslocamentos do ambiente da narrativa trazem um alívio ao espectador: quando o submarino começa a nos aprisionar, o longa evita que nos machuquemos muito. Precisaríamos então de mais tempo na companhia dos marinheiros. Uma pena.

O que há, na verdade, é que estamos diante de um realizador com poder de fogo comparável a um Tarantino (lembram-se do Dogma 95? Pois é, Vinterberg, quem te viu e quem te vê) se propondo a um projeto mais formalmente comercial. Terá ele ficado feliz com seu próprio resultado? Estará satisfeito em conduzir o leme deste filme?

Estas perguntas cabem e só poderão ser respondidas por ele. Tenhamos ou não respostas para elas, ficamos aqui com uma obra que pretende certamente mostrar a decadência do antigo poderio russo. E, nisso, vai agradar a muitos, se é que me entendem…

Kursk - A Última Missão

Nome Original: Kursk
Direção: Thomas Vinterberg
Elenco: Matthias Schoenaerts, Léa Seydoux, Peter Simonischek, Colin Firth, Max von Sydow
Gênero: Ação, Drama, História
Produtora: Belga Productions
Distribuidora: Paris Filmes
Ano de Lançamento: 2018
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