Legado Explosivo, outro filme de ação com Liam Neeson

Tom Carter (Neeson) é um militar aposentado, especialista em bombas, que tem uma carreira como arrombador de cofres de bancos. Ao conhecer Annie (Walsh, de Grey’s Anatomy), ele resolve abandonar a vida de crime e se entregar à polícia, buscando um acordo em que, devolvendo todo o dinheiro que roubou, possa ficar pouco tempo na cadeia e assim construir uma nova vida ao lado da namorada.

Entretanto, policiais corruptos do FBI desejam o produto dos roubos e colocam o plano de Carter e a vida de Annie em risco; e lá vamos nós acompanhar o justiceiro em seu embate para colocar as coisas nos devidos lugares.

Filmes assim funcionam: são catárticos. Exercitam nosso lado vingativo. Enquanto sublimação de nossas fantasias, tudo ok: é válido e até saudável termos um canal de escape inofensivo para nossos desejos destrutivos, e a arte pode propiciar isso. Entretanto, o problema principal se dá quando um filme é apenas isso.

Legado Explosivo

Legado Explosivo

Mark Williams (Um Homem de Família, 2016) assina direção, produção e o texto. Cria um filme básico e superficial, de consumo rápido: um autêntico fast food do gênero ação, o que é um feito, se o comparamos com uma infinidade de títulos descartáveis na mesma categoria.

Neeson revelou recentemente que deseja encerrar suas participações em filmes desse gênero. Sábia decisão: o peso dos 68 anos começa a tornar cada vez menos crível a incorporação da marca que ele sempre desejou imprimir em seus personagens, a força física e habilidades atléticas aliadas à capacidade de criar planos e soluções mirabolantes e a um ar doce.

Aqui, ele fabrica artefatos explosivos com tão poucos recursos que deixariam MacGyver com inveja. Seu potencial de detonador inclusive aumenta seu sex-appeal (busque no filme uma frase que afirma que explodir coisas é muito legal). Ele é, no fundo, um ator com jeito shakespeariano que buscou se especializar em personagens brutamontes. A seu favor, registre-se que é uma proposta de simbiose interessante; os filmes que escolhe, todavia, estão cada vez mais superficiais.

Legado Explosivo

Liam Neeson

Se o desejo for se manter nessa linha de personagens por só mais uma empreitada após este Legado Explosivo, eu o veria bem encaixado na pele, por exemplo, de um Titus Andronicus, da peça homônima de nosso mais querido bardo do teatro universal. Seria uma saída honrosa para uma carreira de filmes dos quais o verdadeiro legado explosivo foi deixado por Charles Bronson.

Também me pergunto se o veterano norte-irlandês não se cansou de salvar mulheres nas telas; a presença feminina é representada constantemente em seus trabalhos como o elemento que produz as falhas nos planos perfeitos. Numa versão atualizada da princesa que precisa ser salva, aqui temos mais um momento Princípe Encantado na figura taciturna, correta e pacífica de Carter: una-se a isso o irritante esforço do roteiro em evitar que o ladrão arrependido tenha as mãos manchadas de sangue, por mais situações perigosas às quais ele possa se submeter. Matar alguém? Só se for estritamente necessário, mesmo que os bandidos sejam, pela n-ésima vez, policiais corruptos e sem escrúpulos.

Outro ponto a ser considerado: como em Busca Implacável 3 (Taken 3, 2014) e Sem Escalas (Non-stop, 2014), seu personagem é acusado, logo no começo do filme, de um crime que não cometeu. Sim, meu caro Liam, os papéis que você tem aceitado estão repetitivos e exauridos. Contudo, não se preocupe: por mais que tenha exagerado na dose em produções menos importantes, nunca nos esqueceremos de seu Oskar Schindler. Aquele papel valeu pela carreira inteira. Mas, por agora, seu mais novo filme é curto, uma história rasa, descartável e esquecível.

Legado Explosivo

Nome Original: Honest Thief
Direção: Mark Williams
Elenco: Liam Neeson, Kate Walsh, Jai Courtney
Gênero: Ação, Crime, Drama
Produtora: Argonaut Entertainment Partners
Distribuidora: Imagem Filmes
Ano de Lançamento: 2020
Etiquetas

Deixe um comentário

Botão Voltar ao topo
Fechar