Milagre na Caverna – drama baseado em incidente real

Temos aqui em Milagre na Caverna, uma dramatização do incidente ocorrido em 2018 numa caverna tailandesa, em que uma equipe de futebol de garotos e seu jovem técnico ficaram presos em uma das câmaras do complexo de Tham Luang devido às chuvas que inundaram o espaço.

Milagrosamente, eles conseguiram se alojar num espaço apertado, sem comida ou água e com oxigênio limitado. Para retirá-los de lá, uma força-tarefa formada por militares e mergulhadores civis corre contra o tempo para salvá-los, criando um esquema complicado de resgate.

Os próprios letreiros iniciais delatam a proposta: para fazer a dramatização, algo da história real foi mexido. Até aí, tudo bem, entretanto, isso deve ser feito com cautela, especialmente quando o elenco é composto também por pessoas que de fato vivenciaram o ocorrido, pois devem passar credibilidade ao contar o que estamos vendo. E, curioso, passei todo o tempo tentando perceber se os “atores” fariam alguma cara de “não foi bem assim”…

Milagre na Caverna

O filme é abrupto logo no início, demorando para prender a atenção. Muito rapidamente, os garotos se locomovem da situação de conforto A para a situação de estresse B. Além disso, vários passos do processo de construção da força-tarefa são suprimidos e, claramente, algumas reuniões de logística são encenadas de maneira bem artificial.

A quantidade de personagens cujos dramas são abordados ao longo do processo de salvamento torna tudo um pouco disperso. Não se sente, realmente, muita emoção e empatia com relação às vítimas, mesmo que nos empenhemos para sentir isso. Alguns momentos poderiam ser melhor explorados: a presença de um guru religioso no local, por exemplo, é apenas pincelada; os entraves da burocracia e as questões políticas relacionadas ao temor do governo tailandês em expor o país à presença de forças estrangeiras também são meramente mencionados, apenas.

O que o filme nos passa

Há, no correr de todo o filme, a clara sensação de que Milagre na Caverna foi feito para capitalizar em cima do ocorrido, feito a toque de caixa para ser o primeiro a registrar o evento traumático, que polarizou as atenções do mundo pré-pandemia, mas que pouca atenção recebeu aqui no Brasil pois, como sempre, nossas preocupações com os problemas internacionais são selecionados por nossa visão euro centrada e americanizada.

É, de todo modo, interessante a participação de Jim Warny como ele mesmo, um dos mergulhadores mais ativos no processo de resgate. Ele tem carisma e se sai bem na atuação, tornando tudo o que gira em torno de sua presença mais factível. O diretor Tom Waller também assina o roteiro. Porém, a história contada na tela merece uma outra releitura, mais à frente, feita com mais calma e com mais acurácia, com um aprofundamento de temas secundários e maior foco na claustrofobia que uma história como essa pode provocar.