Mostra de Cinemas Africanos – CineSesc
24 filmes de 14 países do continente no CineSesc
A Mostra de Cinemas Africanos teve a sua quarta edição, no CineSesc, de 10 a 17 de julho. Assim, durante uma semana, o público pôde conferir uma cuidadosa seleção de filmes africanos e afrodiaspóricos reconhecidos em grandes festivais e respaldados pela crítica e públicos internacionais.
A fim de mostrar a explosão de riqueza, criatividade e diversidade na última década de uma cinematografia com um pouco mais de meio século de vida, a Mostra reuniu 23 títulos procedentes de 14 países, com atenção especial à produção contemporânea. Portanto, a maior parte dos filmes era inédita no Brasil ou em São Paulo. Ao total, foram então 15 longas e 9 curtas de ficção e documentário projetados no CineSesc.
Confira os destaques da Mostra de Cinemas Africanos
Supa Modo – Drama. Direção: Likarion Wainaina. Com Stycie Waweru, Marrianne Nungo, Nyawara Ndambia. Quênia/Alemanha, 2018. 74 minutos.
Por sua delicadeza, ternura e maestria narrativa, é o filme favorito do público internacional. Afinal, é uma declaração de amor ao cinema através da história de uma garota de nove anos com uma doença terminal que sonha em ser uma super-heroína. Supa Modo traz uma história triste e divertida. Ao mesmo tempo nos faz pensar sobre os últimos dias daqueles que amamos. A plateia riu muito e se emocionou com o longa, que nem é tão comprido assim, tem 74 minutos muito bem explorados, sem enrolação. A Veri Luna recomenda!
Touki Bouki – Drama. Direção e roteiro: Djibril Diop Mambéty. Com Magaye Niang, Myriam Niang. Senegal, 1973. 85 minutos.
Um clássico do cinema produzido no continente africano, com um consenso entre os críticos de que exala fortes influências da Nouvelle Vague. Entretanto, tão ou até mais pujantes estão os traços surrealistas na montagem fragmentada dessa história de Mory e Anta (vividos pelo casal Niang). Ele, um boiadeiro e ela, uma estudante, que, juntos, decidem, através de estratagemas irem à Cotê D’azur abandonando o Senegal. Não é um filme fácil, mesmo para cinéfilos empedernidos, e só poderá ser melhor apreciado com uma segunda ou terceira assistência. (por Marcelo Barreto)
Sofia – Drama. Direção e roteiro: Meryem Benm’Barek-Aloïsi. Maha Alemi, Lubna Azabal, Sarah Perles. França, Catar, Bélgica e Marrocos, 2018. 80 minutos.
Muito interessante enredo que trata do enfrentamento de um grande problema na vida de uma jovem adulta em Dacar: a gravidez sem casamento, situação grave para a sociedade marroquina. Assim, com a ajuda da prima Lena, de educação mais ocidentalizada, Sofia aponta Omar, um rapaz da periferia, de ser o pai de seu filho. O filme usa essa premissa para discutir interesses, o poder da influência da classe alta e o caráter, conduzido praticamente todo o tempo pelos personagens femininos. Vencedor do Prêmio Um Certo Olhar para roteiro em Cannes 2018. (por Marcelo Barreto)
A Luta de Silas – Documentário. Direção: Hawa Essuman, Anjali Nayar (este último também assinando o roteiro). Canadá, África do Sul e Quênia. 2017. 80 minutos.
Em estilo Discovery Channel (com participação na produção de Leonardo DiCaprio), o longa divulga a ativa vida política de Silas Siakor, engajado no enfrentamento à exploração dos recursos naturais de sua Libéria nativa por corporações estrangeiras. Nesse embate, ele se depara então com a decepção em relação ao governo de Ellen Johnson-Sirleaf, presidenta entre 2006 e 2018 e uma das vencedoras do prêmio Nobel da Paz de 2011, acusada por Silas de ter sucumbido à crônica corrupção instalada na sociedade de seu país. (por Marcelo Barreto)
A Dança das Máscaras – Documentário. Direção e roteiro: Sara CF de Gouveia, assinando o roteiro em parceria com Khalid Shamis. África do Sul e Portugal. 2018. 70 minutos.
Excelente documentário etnográfico abordando as histórias de Atanásio Nyusi, talvez o melhor dançarino Mapiko de todos os tempos. Assim, em sua deliciosa narrativa, os passados “antigo” e “recente” e o presente de Moçambique são postos à luz. Dono de um carisma impressionante, Atanásio tem tempo ainda de abordar a sua relação com o filho e traduz em gestos o que é a plasticamente espetacular dança típica desse país africano de língua portuguesa. (por Marcelo Barreto)
A Mostra de Cinemas Africanos se estabelece então como um evento itinerante que coloca o Brasil na rota de circulação dos cinemas produzidos na África e sua diáspora. O evento possibilita assim que o público brasileiro acompanhe anualmente os lançamentos da cinematografia do continente e que crie repertório sobre ela. Para esta edição, a Mostra ganhou um catálogo lindo com apresentação dos filmes e debates com especialistas de renome internacional. Certamente, mais uma forma de incentivar a produção de conhecimento sobre um cinema inovador, original e com narrativas diversas.