O Homem Ideal? – Comédia espanhola de 2017
Jaume (Alfred Picó) e Raquel (Cristina García) são um casal exemplar. Eles organizam um jantar com Rubén (Carles Alberola), um amigo neurótico e depressivo, separado há dois anos, para um encontro às cegas. Entretanto, as muitas amigas que Raquel convida, recusam a oferta quando conhecem as características de Rúben. A mulher que finalmente vai a esse encontro, coloca de cabeça para baixo o relacionamento deles, mudando tudo o que acreditavam estar imóvel. Inclusive mostrando que nunca é tarde demais para recomeçar.
Este é o primeiro filme de Carles Alberola, autor, diretor e ator de O Homem Ideal?. O filme é baseado na peça de teatro homônima, que ganhou o Prêmio Palanca e Roca de Teatro no Prêmio Literário Ciutat Alzira em 2013. Uma comédia romântica, filmada em Valencia, e com o mesmo elenco nos palcos e nas telas.
O roteiro reúne muitos dos temas e obsessões que Alberola vem desenvolvendo em seus textos teatrais e obras televisivas. Assim, temos o indivíduo preso por uma realidade inóspita, o medo de lutar pelo que queremos e a esperança de tornar nossos sonhos realidade.
Uma premissa simples, mas com ideias complexas
Tomando as adaptações cinematográficas das comédias de Nova York de Neil Simon como referência e, mais recentemente, a adaptação do texto teatral Carnage, Alberola acredita no poder da situação dramática proposta por O Homem Ideal?, mantendo a unidade de tempo e espaço, como na peça de teatro. Só que Carnage (o título aqui ficou como Deus da Carnificina) é muitíssimo superior, na minha humilde opinião, claro.
Rúben é um homem excêntrico, cheio de manias, professor de literatura, que mora num apartamento cheio de livros. Ele é baixinho, feiosinho, com algumas ideias machistas na cabeça, mas com possibilidade de certa evolução pessoal durante a trama. É o homem ideal? Não, afinal, isso nem existe. Ao mesmo tempo que quer cuidar da saúde pedalando em uma bicicleta ergométrica, fuma um cigarro atrás do outro. Contraditório, não?
Raquel é sua melhor amiga, uma mulher bonita e divertida, mas que acha que está velha para ser desejada. Ela e Rúben se divertem bastante, principalmente quando Jaume não está por perto, relembrando um passado cheio de juventude. Jaume, aliás, sai bastante do apartamento, pois tem muitos segredos a esconder. Homem elegante e bem apessoado, ele talvez tenha muito a perder com vinda da convidada secreta, Pilar.
O Homem Ideal?
Com exceção do início do filme, toda a ambientação se dá na sala de estar do apartamento de Rúben. Isso não é um problema, tendo em vista que a trama vem do teatro. O que pode incomodar um pouco o público é que a atuação parece permanecer no palco. Não digo de todos os quatro atores, mas principalmente de Carles, o autor-diretor-ator. Suas falas chegam a soar um tanto falsas por terem esse tom teatral que de vez em quando não cabe no cinema. Mas este incômodo é facilmente substituído por outro: por que ele não troca a camisa suja de bebida se está em sua própria casa?
Em seus diálogos, os quatro trazem questões existenciais, falam rapidamente sobre variados temas, e descobrimos algumas manias e obsessões de cada um. Com suas crises, o prato queimando no forno, as desculpas esfarrapadas e tudo o que pode acontecer em um jantar, o público vai se divertindo com o desenrolar da narrativa, que é leve, mesmo trazendo temas como a traição e o machismo. Outro filme que faz isso muito bem é Nada a Esconder, comédia francesa disponível na Netflix.
O Homem Ideal? entra em cartaz no dia 26 de setembro.