O Palestrante

O Fábio Porchat é um cara foda. Começou como um zé-graça de plateia em um programa do Jô Soares e hoje é um dos principais comediantes do Brasil. Se mete em trocentos projetos, faz filme, série pra streaming, tem programa na vênus platinada e ainda consegue manter um padrão de qualidade considerável na categoria à qual se dedica. É basicamente em volta dele que gira o novo filme “O Palestrante“, já que ele assina o roteiro, atua como personagem principal, ilustra todo o material promocional do filme e chama os amigões para atuarem.

Trabalho de férias

Aliás, o filme meio que parece uma colônia de férias de amigos do Porchat, já que ele se passa praticamente todo em um hotel no Rio de Janeiro onde todo mundo ficou hospedado nas gravações, e narra as desventuras de um perdedor na vida que simplesmente decide assumir o papel de um palestrante motivacional picareta (o adjetivo degradante é cortesia minha, já que eu acho todo palestrante motivacional picareta mesmo).

É um romancezinho boboca, com uma narrativa mais óbvia do que pesquisa Datafolha, mas recheado de piadinhas de todas as notas. Nem todas as piadas funcionam, mas o filme tem piada o bastante para o público simplesmente ignorar as que não deram certo e passar para a próxima.

O Palestrante

Porta feelings

Com certeza o elenco cuidadosamente escolhido para melhorar as férias do Porchat ajudou a elevar o nível das piadas, já que são daquela nova geração da comédia: Dani Calabresa, Miá Mello, Otávio Muller, Kibeloco e Paulo Vieira interpretam personagens meio clichês, mas muito bem trabalhados em um roteiro legalzinho que, mesmo óbvio, nunca desvia muito do seu caminho e se perde em piadas de gosto duvidoso – coisa muito comum de acontecer no cinema tupiniquim e nas minhas críticas.

O resultado cômico acaba ficando uma coisa meio “Porta dos Fundos“, algo inevitável por conta dos esteriótipos abraçados com gosto pelos atores que com certeza se divertiram loucamente fazendo esse filme. Infelizmente a produção acaba escorregando em elementos básicos, como a adição de uma trilha sonora constante e infantil, que tem um claro objetivo de pontuar as piadas mas que acaba dando ao filme um ar mais amador do que das esquetes de cinco minutos que pipocam toda a semana no youtube.

O Palestrante envelhecido em porão de produtora

“Mas como o Paulo Vieira conseguiu tempo para gravar um filme participando de quinze projetos simultâneos e vendendo mais produto em televisão do que o Ciro Bottini?”, pergunta-se você. A resposta é que o filme foi gravado em janeiro de 2018 e ficou arquivado em alguma sala perdida nos seus estúdios. “Eu já tinha desistido de lançar o filme”, disse o próprio Paulo em coletiva de imprensa no começo de agosto. “A gente esqueceu do filme por um tempo, mas a gente estava preocupado em sobreviver também estes anos”, disse Antonio Kibeloco, o Tabet.

“O Paulo Vieira é meu bitcoin. Eu gravei o filme na baixa e hoje ele tá essa estrela toda”, disse Fábio Porchat. Mas a verdade é que o elenco todo manda muito bem e é uma delícia ver esse pessoal interagindo entre si. Com um roteiro despretensioso, mas redondinho, e umas piadas gostosinhas, esses cinco anos parados não parecem ter afetado o filme e ele ainda funciona muito bem.

E, se isso não fosse o suficiente, na coletiva de imprensa, Paulo Vieira ainda pediu para os jornalistas falarem bem do filme. É lógico que a película recebeu estrelas extras por causa disso. Eu faço tudo que o Paulo Vieira pede.

O Palestrante

Nome Original: O Palestrante
Direção: Marcelo Antunez 
Elenco: Fábio Porchat, Dani Calabresa, Antônio Tabet, Maria Clara Gueiros
Gênero: Comédia
Produtora: Camisa Listrada
Distribuidora: Downtown Filmes
Ano de Lançamento: 2022
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