Os Croods 2: Uma Nova Era – Divertidíssimo

O que torna Os Croods 2: Uma Nova Era divertidíssimo? Ritmo. E nesse quesito, a Dreamworks costuma acertar.

A família caçadora-coletora Neanderthal formada por Grug (Nicolas Cage no original, Hércules Franco na dublagem brasileira), Ugga (Catherine Keener/Bárbara Monteiro), Eep (Emma Stone/Luísa Panomanes), Thunk (Clark Duke/Fred Mascarenhas), (Cloris Leachman/Mariângela Cantú) e Sandy (Kailey Crawford/Pâmela Rodrigues), após as andanças de fuga às condições hostis de um mundo natural em transformação, se vê compelida a um choque cultural no encontro com Guy (Ryan Reynolds/Raphael Rossatto) e seu animal de estimação, Braço.

Guy, então, os leva a adentrar no ambiente novo oferecido pela família Bemelhor, formada por Bem (Peter Dinklage/Rodrigo Lombardi), Esperança (Leslie Mann/Juliana Paes) e a filha deles, Aurora.

Os Croods 2: Uma Nova Era

Os Croods 2: Uma Nova Era

Após cerca de sete anos, a Universal leva a “primeira família da História” a uma “nova era”: o encontro com um grupo tecnologicamente “mais cientificista” (não gosto particularmente da expressão “mais avançada”) mas que também tem seus problemas, de relacionamento e de relação com o espaço externo (seus muros são sua nova “caverna”, tentando manter sob o controle o ambiente interno e afastando o incontrolável e assustador do ambiente externo).

Temos aqui clichês em profusão: a rebeldia, amor e amizade adolescentes (“Por que nossas vozes estão ficando mais finas?”), a relação com a sogra, o filho viciado em “tecnologia”; mas, sobretudo, a luta pela união e manutenção da união familiar tradicional e conservadora, representada pela figura patriarcal de Grug.

Como não poderia faltar, referências que divertem ao tentar encontrá-las, que vão de Família Dinossauro a Tarzan, de King Kong a Blackxploitation, num universo fantástico que beira Alice no País das Maravilhas. Tudo construído sobre personagens com traços batidos e que interessam às discussões na cultura americana.

Só que é um Flintstones com toques modernos (literalmente)

Há discussões sobre a pressão da miscigenação sobre o conservadorismo conduzida sob uma textura histórica. Afinal, Guy, o Homem de Cro-Magnon que já domina o fogo, se relaciona com Eep, e ele os conduzirá à família sedentária e agricultora dos Bemmelhor, os “caras” do Neolítico.

Perceba aqui que os nomes dos personagens são emblemáticos: Grug, Eep, Ugga, Thunk não passam de grunhidos; Guy é apenas “um sujeito”, pois é na “cruza” com ele que os Croods irão a um estágio “bem melhor”. Há, obviamente, o eterno vício moralista americano de que a civilização tecnologicamente mais equipada é “bem melhor”. Ou seja, é bom cuidar sempre das informações (subliminares ou não) que produções da indústria cultural nos trazem.

Os Croods 2: Uma Nova Era

Mas Croods 2: Uma Nova Era é ótimo!

Um bombardeio de gags visuais, caras e bocas, situações hilárias. É uma animação: o que a animação traz de liberdade? A possibilidade de aumentar até o limite a velocidade da interpretação dos personagens e a sequência vertiginosa de imagens cada vez mais elaboradas pelo avanço da tecnologia digital. A perda da organicidade dos atores em carne de osso é um problema que a Dreamworks busca mitigar com o potencial artístico da precisão e da aceleração da produção computadorizada.

Há cenas cruéis e violentas também: lanças, plantas carnívoras, ferrões. Elementos criados para anestesiar sensibilidades que terão que entender que os Croods estão em ambiente hostil. No fim, eles comem os animais que caçam. Nesse sentido, serve para validar o conservadorismo do avesso ao novo e ao diferente, fortemente enfatizado em Croods (2013). Aqui também podemos buscar acesso aos contos de fadas, nos quais as crianças são expostas a cenas controladas de violência com o intuito de acostumá-las e naturalizar a violência da vida.

A tendência é criar os novos Flintstones? Se sim, funciona: a repaginação provocada pelos sempre novos recursos cinematográficos e pelas novas discussões familiares americanas funcionam aqui. As feições bem dosadas do homem paleolítico (caçador-coletor, correr nos quatro membros, farejar, bebês animalescos), em contraparte com o neolítico (homem agricultor, engenheiro, “o que tem as ideias”); a miscigenação cultural, em que uma cultura suplanta a outra (discussão sempre polêmica); a propaganda das comodidades da cultura “moderna” (com toques leves de “efeitos colaterais” mas que por fim levam a uma idílica “acomodação entre culturas”) fazem, por fim, parte da propaganda pop norte-americana.

Curiosidades

A dublagem de Eep é novamente feita por Luísa Palomanes (a mesma de Croods); entretanto, não é sua a voz na dublagem do trailer (efeito do homeoffice da pandemia de Covid, talvez?); já a dublagem de Rodrigo Lombardi e Juliana Paes está adequada, a despeito da polêmica sempre pertinente sobre o ato de preterir dubladores profissionais em prol de atores famosos que chamam público.

É um filme bacana. Procure assisti-lo com um olhar investigativo e aguçado. Nos cinemas a partir de 07 de janeiro.

Os Croods 2: Uma Nova Era

Nome Original: The Croods: A New Age
Direção: Joel Crawford
Elenco: Vozes de Nicolas Cage, Emma Stone, Ryan Reynolds, Catherine Keener
Gênero: Animação, Aventura, Comédia
Produtora: DreamWorks Animation
Distribuidora: Universal Pictures
Ano de Lançamento: 2020
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