Os Fabelmans

Foi em 1993 que eu me apaixonei de verdade pela sétima arte, graças a um diretor que decidiu provar que dinossauros poderiam ser reais e trouxe às telas a (até hoje, na minha opinião) melhor aventura que o cinema já viu. Desde então eu sou fissurado por Spielberg e mesmo seus filmes mais fracos me encantam. Por isso eu estava ansioso para assistir “Os Fabelmans“, um filme semi-autobiográfico, mas uma visão extremamente acurada da infância do diretor.

Eu já esperava que fosse gostar do filme, porém tentei segurar a expectativa. Não seria preciso: ele é totalmente diferente do que eu esperava – e muito melhor.

Os Fabelmans

“Semi”-autobiográfico

Para começo de conversa: o filme é completamente auto-biográfico. Ele é muito mais acurado do que a maioria dos dramas históricos; e o site historyvshollywood teve até dificuldades em achar elementos na história que não fossem fatos reais da vida de Spielberg.

Na realidade, a única parte ficcional da história toda são os nomes dos personagens. Steven é Sammy. Seus pais, originalmente Leah e Arnold, são chamados no filme de Mitzi e Burt. E “Spielberg” virou “Fableman“. As mudanças óbvias não escondem os spoilers de qualquer pessoa que saiba um pouco da vida do diretor. E qualquer um que já tenha visto algum de seus filmes (um grupo que acredito que seja abrangente o suficiente para incluir 99% das pessoas do planeta) vai ver na sua infância marcas que Steven levou para sempre em seus filmes, em especial aos problemas familiares e à sua habilidade em dirigir crianças, que começou com o diretor produzindo filmes estrelados por suas irmãs mais novas. Assim, o filme parece até prolongar demais o inevitável: todo mundo sabe o que vai acontecer, mas demora para chegar lá.

No fim, o próprio Steven confessa que o “semi” está aí para diminuir um pouco da pedância que é dirigir um filme sobre si mesmo. Não adiantou: o filme é 100% a vida do cara.

Os Fabelmans: Projeto de uma vida

Na longa lista de 35 filmes dirigidos por Spielberg, é muito difícil encontrar um filme que seja ruim. Talvez “Indiana Jones e a Caveira de Cristal” seja o mais controverso e o mais fraco, mas nem esse eu considero ruim. Porém é inegável e óbvio que há algo especial nos projetos que o diretor se apaixona. Seja no drama “A Lista de Schindler“, que passou décadas em produção ou em E.T., que claramente reflete muito da tempestuosa relação familiar que o diretor passou na infância.

Pela natureza extremamente pessoal do projeto, é possível ver essa paixão em cada cena do filme. Com um roteiro emocionante e sem vilões, Steven faz uma auto-reflexão da sua própria infância – e assistir a isso deve ajudar demais sua psicóloga durante as sessões de terapia.

Os Fabelmans

Só vai

O resultado de tanto amor é um filme brilhante. “Os Fabelmans” tem seus momentos cômicos, alternando com um drama meio piegas, mas sem nunca perder a ternura. Paul Dano segue foda como sempre. Michelle Williams brilha muito interpretando Mitzi. O protagonista Gabriel LaBelle abraçou demais a oportunidade que a vida lhe deu e não desapontou.

O filme vem forte para a temporada de premiações: ganhou o Globo de Ouro de melhor filme de drama e melhor diretor e com certeza vai concorrer nessas categorias no Oscar.

É raro ver um filme biográfico tão fiel à sua história real, e mais difícil ainda quando esse projeto é auto-biográfico. Há sim o medo de parecer arrogante e petulante, mas o diretor não deixa esse medo estragar um filme tão fantástico.

E se tem alguém que pode ser pedante, é Steven Spielberg; tá completamente perdoado.

Os Fabelmans

Nome Original: The Fabelmans
Direção: Steven Spielberg
Elenco: Michelle Williams, Gabriel LaBelle, Paul Dano, Judd Hirsch, Seth Rogen
Gênero: Drama
Produtora: Amblin Entertainment
Distribuidora: Universal Pictures
Ano de Lançamento: 2022
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