Um Filho

Lá no meio da pandemia, eu fiquei bem impactado com “Meu Pai“, primeiro filme de Florian Zeller, que tinha uma atuação forte de Anthony Hopkins e que transmitia os dramas de uma pessoa com demência de um ponto de vista raro – de um jeito que só Bojack Horseman conseguiu chegar perto em um episódio lá da quinta temporada. Agora o cineasta está de volta com “O Filho“, filme que parece compôr o FPCU (ou Família-Problemática-Cinematic-Universe) e que provavelmente vai ter como terceiro filme da triologia “A Mãe” ou o “O Espírito Santo”.

Teatro Dramático

Mais uma vez, o longa é inspirado em uma peça de teatro e ele tem todo o jeitão teatral mesmo. Com grandes responsabilidades de um bom filme jogadas nas costas dos atores, o elenco foi cuidadosamente formado, com Laura Dern, Vanessa Kirby, uma ponta do próprio Anthony Hopkins, e nosso australiano favorito depois da morte de Steve Irwin: Hugh Jackman.

Também conta com uma aposta quase estreante no papel de protagonista: Zen McGrath, que tem a ingrata missão de elevar sua performance de atuação para aparecer em meio aos nomes ao seu redor. É claro que ficou difícil o negócio para ele e pode-se dizer que a estrela do filme foi caindo em Hugh Jackman, que arrasa sim.

No final, o filme nem é tanto pelo filho, mas pelo jeito que o pai lida com o filho. Pena que o título “The Father” já tinha sido escolhido, senão dava para ter usado de novo.

Filho pra quê?

E começa aí o primeiro problema familiar: pessoas que decidem ter filhos.

Porra, pessoal, é 2023, o mundo tá sendo afetado por aquecimento global, tem anti-vacinação, vamos todos morrer em 15 anos quando a falha de San Andreas decidir se coçar ou a humanidade vai acabar debaixo d’água quando o mar subir e inundar tudo que é praia. Filho pra quê? Sério, adota um gato.

Hugh Jackman teve filho e agora sofre com isso. Laura Dern também. Vanessa Kirby também, mas nem aparece tanto porque tem tanto personagem sofrendo com filho que ela nem tem tempo de sofrer por conta própria.

Fica de lição: não tenha filhos. Não vale o investimento.

Dramalhaço

Fora essa lição anticoncepcional óbvia, o filme não consegue repetir o sucesso da obra debutante de Florian. Ele acaba sendo um dramalhão que se repete e se arrasta. Duas horas ficou demais para o conteúdo dele e eu não aguento mais reclamar de tamanho de filme. Sério, só vou assistir Kwai daqui pra frente.

O diretor, que tinha usado os cenários e a confusão causada pelos cômodos labirínticos de forma tão exemplar em “The Father”, usa metáforas óbvias e cenas que tentam constantemente explicar contextos para a audiência, como se ele não acreditasse na inteligêcia do público, que já tinha se mostrado bem espertinho e se rasgado em elogios ao filme passado.

Talvez um dos problemas que Florian Zeller arrumou para si próprio foi ter estreado com uma régua tão alta. “Um Filho” nem é ruim, mas não chega aos pés do que se esperava dele. Estreia dia 23 de março.