13 Reasons Why – opinião sobre a 2ª temporada

O que acontece com os que ficaram

Em 13 Reasons Why, depois do suicídio de Hannah Baker (Katherine Langford) e do vazamento de suas fitas, seus antigos colegas de classe tentam se recuperar enquanto precisam enfrentar o julgamento de Bryce Walker (Justin Prentice), o estuprador de Hannah e de Jessica Davis (Alisha Boe).

A primeira temporada de 13 Reasons Why, lançada em 2017, chamou atenção do público porque tinha um diferencial: ela era narrada por Hannah Baker depois de morta. As falas de Hannah apareciam através das fitas que ela tinha gravado explicando os treze motivos que a levaram ao suicídio.

A série prometia abordar temas como machismo, abuso sexual, bullying e suicídio, mas foi alvo de críticas justamente pela maneira com que mostrava essas questões. O suicídio de Hannah, por exemplo, foi filmado do começo ao fim e existe uma convenção entre roteiristas que defende que não se deve mostrar cenas de suicídio em obras de ficção, justamente para não dar ideias a quem assiste. Quando isso é feito em uma série adolescente, então, a questão fica ainda mais complicada.

Alisha Boe como Jessica Davis em 13 Reasons Why
Alisha Boe como Jessica Davis

13 Reasons Why – Depois de Hannah…

Na primeira temporada já acompanhávamos um “depois de Hannah”, uma vez que ela vivia apenas nas fitas e nas lembranças de seus colegas e familiares. Na segunda temporada, então, assistimos um “depois-depois de Hannah”. Não existem mais fitas – já que todos os personagens envolvidos já escutaram tudo – e já mostraram quase todas as lembranças de Hannah. No entanto, ela ainda “conversa” com Clay (Dylan Minnette), em cenas que dão a entender que ele, na verdade, está falando sozinho.

Nessa temporada, os estudantes precisam reviver os acontecimentos que levaram ao suicídio de Hannah no julgamento de Bryce, enquanto curam suas próprias feridas. Jessica, outra vítima de Bryce, precisa lidar com o mal que ele e seu ex-namorado, Justin (Brandon Flynn) lhe causaram, enquanto se decide se depõe contra seu estuprador; Clay precisa aprender a viver sem Hannah, por quem era apaixonado, enquanto começa a se apaixonar por Skye Miller (Sosie Bacon); Justin precisa lidar com os seus vícios, sua família complicada e com a culpa que carrega pelo que aconteceu com Jessica; e Alex (Miles Heizer), que sobreviveu a sua própria tentativa de suicídio, precisa se recuperar disso.

As memórias

Hannah continua aparecendo nessa temporada, mas os roteiristas não podem mais usar do artefato das fitas. Como ela aparece apenas para Clay, a série dá a entender que aquela é uma manifestação da mente dele, que está claramente perturbado. Dessa forma, é impossível confiar no que ela fala nesses momentos.

Clay continua conversando com Hannah
Clay continua conversando com Hannah

O roteiro da segunda temporada, então, se apoia em outro efeito: os depoimentos dos jovens no tribunal. Estes consistem basicamente de memórias do tempo que passaram com Hannah e que não tínhamos tido acesso antes. Zach (Ross Butler), por exemplo, conta que teve um envolvimento romântico com Hannah antes do estupro que ela sofreu; Jessica conta detalhes de como as duas pararam de se falar depois que ela começou a namorar Alex; e Alex conta sobre uma noite em que os três trocaram beijos, enquanto bêbados.

É interessante a maneira com que a segunda temporada escolhe resolver os problemas de roteiro. Tem sentido, já que nas fitas ouvimos apenas o lado de Hannah, e tem uma certa lógica que ela não tenha contado tudo que aconteceu. Adolescentes escondem coisas o tempo todo, o que meio que justifica a maioria das ações dos jovens da série.

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Também é interessante como a segunda temporada consegue mostrar pontos de vista diferentes de personagens diferentes, em situações que já assistimos na primeira temporada. E, embora fique pré-estabelecido que a maioria dos adolescentes está falando a verdade, o depoimento de Bryce, que sabemos ser o estuprador de Hannah, Jessica e possivelmente outras garotas, é obviamente cheio de mentiras que dão a entender que ele e Hannah estavam em uma relação sexual consensual e que o que quer que tenha acontecido entre os dois não foi um estupro.

A nova temporada de 13 Reasons Why traz lembranças envolvendo Hannah
A nova temporada traz lembranças envolvendo Hannah

Os problemas

Mas é claro que a segunda temporada de 13 Reasons Why, assim como a primeira, tem problemas. É ponto pacífico que a ideia por trás da série era conscientizar a audiência sobre a depressão, o machismo, o bullying e o assédio entre os adolescentes e, mais especificamente, no ambiente escolar, uma vez que o público alvo era o adolescente, mas que a primeira temporada conseguiu um certo reconhecimento, inclusive entre adultos.

A temporada anterior até faz um bom trabalho em mostrar as pressões da juventude e, no caso de Hannah, o estupro que a levou ao suicídio. O problema eles mostram isso. As cenas de estupro são pesadas e a cena de suicídio é praticamente um tutorial.

Essa é uma questão que prossegue na segunda temporada. Aqui, os personagens parecem ainda mais deprimidos e desesperados do que estavam antes, o que de certa maneira se justifica, afinal, eles testemunharam estupros, abusos, violências e suicídios. Se conseguimos simpatizar e entender os sentimentos de Jessica, que tenta esquecer seu estupro e de Alex, que luta com as sequelas da sua própria tentativa frustrada de suicídio, é um pouco mais difícil comprar que Clay está completamente são, quando conversa e culpa uma adolescente morta, que na realidade, não lhe devia nenhuma satisfação.

Zach e Hannah
Zach e Hannah

Muita violência

Bryce, que além de ser o valentão da escola, é um estuprador e Montgomery De La Cruz (Timothy Granaderos), que até essa temporada só praticava bullying, estão ainda mais violentos. Acompanhamos, por exemplo, cenas de Bryce forçando, de maneira não tão sutil, sua atual namorada, Chlöe Rice (Anne Winters) a fazer sexo com ele e cenas de extrema violência envolvendo Montgomery.

Claro que a ideia é retratar o ambiente escolar e como o bullying e o assédio são praticados de maneira criminosa, mas o que fica no ar é a sensação de que, com a intenção de chocar sua plateia, 13 Reasons Why exagera no conteúdo violento e perturbador, esquecendo completamente que não só retrata adolescentes, como eles também são seu público alvo.

Aspectos técnicos de 13 Reasons Why

É óbvio que a série é muito bem produzida e cuidadosa em seus aspectos técnicos. Diferentemente de muitas séries adolescentes que tem um elenco que é obviamente adulto, o elenco aqui parece realmente adolescente – embora também não seja. Os figurinos que não abusam de grifes famosas e que são relativamente realistas, ajudam a dar essa impressão. Nenhum ator se sobressai especialmente, mas pelo menos conseguem se sair bem dentro do seus papeis. 13 Reasons Why tem muitos personagens e é até difícil dar espaço para que todos eles apareçam em todos os episódios.

Levando em conta que essa é a segunda temporada de uma série que foi, originalmente, pensada para ser limitada e cobrir só o período narrado no livro em que ela foi inspirada, a série até se sai bem e consegue resolver alguns dos pepinos que sobraram da temporada anterior. A ideia de explorar os depoimentos dos adolescentes e, assim, reviver memórias que envolvem Hannah, é boa e mantém a proposta da série. Algumas das memórias podem soar absurdas, mas os roteiristas têm o cuidado de fazer caber dentro da trama que foi exposta na primeira temporada.

Na segunda temporada de 13 Reasons Why, os personagens precisam lidar com os acontecimentos da primeira temporada
Na segunda temporada, os personagens precisam lidar com os acontecimentos da primeira temporada

A série peca em alguns quesitos, e o primeiro é a maneira com que retrata assuntos delicados como distúrbios mentais, depressão, suicídio e bullying. 13 Reasons Why não se dá ao trabalho de explicar ou mesmo apresentar resoluções para os problemas de seus personagens. A série mergulha fundo em todas essas questões em busca de audiência e com o intuito de chocar a plateia.

Escolhas erradas

Fica claro que aqueles adolescentes estão no fundo do poço, mas eles vão descer o quanto for necessário para manter a produção no ar. Uma vez que a série é pensada para o público adolescente, seria interessante que ela apresentasse pelo menos uma saída para todos esses problemas que assolam ou que ganham maior intensidade entre os jovens.

13 Reasons Why também aposta em tramas um pouco tolas, como a tentativa de arrumar um novo interesse romântico para Clay, que está ocupado demais conversando com uma antiga paixão falecida e em histórias que já não funcionavam desde a primeira temporada, como o romance sem graça e sem nenhuma química entre Jessica e Alex.

A temporada revive tramas que já não funcionavam antes
A temporada revive tramas que já não funcionavam antes

O telespectador pode notar que a série, pelo menos na sua ideia original, partia de boas intenções e que talvez quisesse alertar os jovens e seus pais sobre comportamentos perigosos nessa faixa etária, mas que isso se perdeu no meio do caminho. Não é que a série seja completamente ruim, a plateia ainda fica facilmente presa nos relacionamentos e tramas que envolvem os personagens e o formato de revelar pouco a pouco os segredos que nem a própria Hannah queria contar em suas fitas, é interessante, mas… também fica o questionamento: essa série é feita para o público jovem? Ela deveria ser tão explícita e tão violenta? A série faz mesmo uma crítica aos assuntos que se propõe, ou só estimula todos esses comportamentos entre seu jovem público?

A segunda temporada de 13 Reasons Why está disponível na Netflix.

13 Reasons Why - 2ª temporada

Nome Original: 13 Reasons Why
Elenco: Dylan Minnette, Katherine Langford, Christian Navarro, Brandon Flynn, Alisha Boe
Gênero: Drama
Produtora: Anonymous Content, Paramount Television
Disponível: Netflix
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