3096 Dias, de Natascha Kampusch

Diário de um sequestro

No dia 2 de março de 1998, Natascha Kampusch, de dez anos, saiu de casa para ir à escola, mas nunca chegou lá. Natascha foi sequestrada por Wolfgang Priklopil, de 35 anos, e foi mantida em cárcere privado por quase oito anos – 3096 dias -, até 2006, quando ela escapou depois de um deslize de seu sequestrador.

3096 Dias é uma espécie de biografia, onde Natascha narra seus dias antes, durante e depois do cativeiro, e se pergunta por que ela foi escolhida por Priklopil.

O caso

3096 Dias narra a história real de Natascha Kampusch e, portanto, é um livro sobre um crime real. O caso de Kampusch começa em 1998, em Vienna, quando ela é arrastada para dentro de uma van por um homem – que mais tarde se descobriria ser Wolfgang Priklopil -, no seu caminho para a escola. Uma testemunha de doze anos viu Natascha sendo carregada por dois homens para uma van e a polícia chegou a fazer buscas em veículos do tipo e, inclusive, parou Priklopil, que disse estar usando a van para uma reforma na sua casa.

Natascha Kampusch aos dez anos, quando foi sequestrada
Natascha Kampusch aos dez anos, quando foi sequestrada

Outras hipóteses da polícia envolviam a possibilidade de Natascha ter sido sequestrada por uma quadrilha de pornografia infantil, e chegaram a investigar Michel Fourniret, conhecido como O Ogro das Ardenas, um serial killer que matava jovens mulheres e que foi preso durante o cativeiro de Natascha; ou ter sido sequestrada por uma quadrilha de venda de órgãos, ou ainda, ter sido tirada do país, porque estava com seu passaporte na mochila na ocasião do sequestro. Até a mãe da Natascha foi acusada de talvez acobertar o sequestro da filha.

Natascha passou quase oito anos presa em uma cela de 5 m² na garagem da casa de Přiklopil, onde foi submetida a abusos mentais, sexuais, surras e tortura. Depois de um tempo, Natascha podia sair do porão e era mantida na casa, usando pouca ou quase nenhuma roupa, e era obrigada a cozinhar e a limpar a casa. Em determinado momento, quando Priklopil resolveu fazer uma reforma no imóvel, Natascha foi a única operária trabalhando, e chegou a carregar sacos de cimentos e colocar pisos. Ela também era obrigada a manter a cabeça raspada, porque seu sequestrador não queria fios de cabelo pela casa.

Ela escapou no dia 26 de agosto de 2006, quando Priklopil saiu de casa para atender uma ligação e esqueceu o portão do jardim semiaberto, enquanto Natascha limpava o carro dele. Ela correu até um quintal próximo e pediu ajuda, a dona da casa não permitiu que Natascha entrasse na casa, mas chamou a polícia. Quando percebeu que Natascha havia fugido, Priklopil saiu da casa e se jogou na frente de um trem em movimento.

Natascha depois de adulta
Natascha depois de adulta

O livro

3096 Dias é a autobiografia de Natascha, mas o livro não cobre toda a vida dela, ainda que volte no passado para falar de como era seu dia a dia antes do sequestro e fale um pouco sobre o que aconteceu depois que ela saiu do cativeiro, o foco central do livro e também o seu chamariz é o sequestro e os quase oito anos que ela passou presa.

Natascha é bem sincera e honesta na sua narração, ela dá detalhes bem precisos e em alguns momentos chega a reproduzir diálogos entre ela e Priklopil, o único assunto que ela não aborda é a violência sexual, e que ela diz preferir guardar para si mesma. Mas é justamente porque Natascha fala sobre tudo, que 3096 Dias se torna um livro super pesado, afinal, falamos sobre uma criança vivendo situações terríveis e exposta a condições e abusos horríveis.

Mas Natascha também fala um pouco da convivência dela com o seu sequestrador e como a relação era muito confusa, já que ele tinha lhe sequestrado, mas que também era responsável por lhe dar comida. Outro ponto interessante do livro é que Natascha se pergunta constantemente por que ela foi a escolhida por Priklopil, e os sentimentos dela passam pela culpa e pela raiva.

Wolfgang Přiklopil, o sequestrador de Natascha
Wolfgang Přiklopil, o sequestrador de Natascha

3096 Dias na mídia

Naturalmente o caso já foi tema de vários documentários e programas de crime, justamente porque a história é real e é muito chocante, mas o livro também ganhou uma adaptação para o cinema chamada 3096 Dias de Cativeiro. O filme é estrelado por Antonia Campbell-Hughes e Thure Lindhardt, e é bem fiel ao livro e consequentemente à história de Natascha.

Cena de 3096 Dias de Cativeiro
Cena de 3096 Dias de Cativeiro

Também é impossível negar que 3096 Dias tenha servido de inspiração para alguns momentos do livro O Quarto, de Emma Donoghue, que também conta a história de uma jovem mulher sequestrada, vivendo em cativeiro, não só porque as duas tramas são parecidas, mas também porque as protagonistas descrevem sentimentos semelhantes em relação ao que lhes acontece depois do sequestro.

O caso de Natascha Kampusch infelizmente não é o único, hoje em dia sabe-se de várias outras jovens que passaram pelo mesmo pesadelo que Natascha, mas a história dela talvez seja a mais conhecida. 3096 Dias é uma paulada, o sofrimento de Natascha é terrível, no entanto, ele se faz necessário para que não aconteça novamente.

Nome Original: 3096 Dias
Autor: Natascha Kampusch
Editora: ‎Verus
Gênero: Não-ficção, biografia, crime
Ano: 2010
Número de Páginas: 267
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