O Troco (1999), o thriller noir definitivo
Em O Troco, Porter e Val Resnick planejam um grande assalto a uma gangue. Com a ajuda de Lynn, a esposa do protagonista, Val trai Porter e este é baleado e dado como morto. O homem ressurge após um tempo, decidido a retomar sua parte do dinheiro. Mesmo que para isto tenha de enfrentar toda uma organização criminosa.
Oriundo de uma carreira sólida, como um dos mais cativantes e grandes atores de Hollywood, Mel Gibson fica bastante à vontade com seu Porter, um cara sensato e comum, que tem pouca paciência para folgados e pilantras, em um universo repleto deles, onde ninguém realmente presta (nem mesmo ele). Após a traição que sofreu pelas mãos do melhor amigo e da própria esposa, o homem retorna para recuperar a quantia que lhe foi roubada (exatamente 70 mil dólares, e não 140 ou 130, como alguns insistem em se enganar) – e que ele próprio havia assaltado de um grupo mafioso chinês.
O Troco
Assim, num trabalho impecável de escala, Porter começa pela ex, indo até Val, passando pela (única) ajuda nas mãos de uma amante prostituta, tendo de lidar com os mafiosos que assaltou no passado, uma dupla policial corrupta (que é uma paródia de Riggs e Murtaugh, veja só), até chegar n´O Grupo, subindo de nível em nível, derrubando um por um os criminosos e corruptos que surgem em seu caminho. Mas ele não faz isso à maneira de um Ray Quick (Stallone, em O Especialista) ou John ‘The Eraser’ Kruger (Schwarzenegger, em Queima de Arquivo), seus predecessores, e sim mais como um John McClane, que apanha, levanta, cai, se ferra novamente e torna a se levantar, sangrando e fazendo sangrar pela jornada do homem comum, que só quer de volta o que é seu. Custe o que custar.
Remake de À Queima Roupa de 1967
Brian Helgeland vinha de uma carreira instável e realiza aqui seu melhor filme. Assim como também um dos maiores daquele ano de 1999. Acertando completamente na atmosfera noir no final daquela década, trabalhando uma fotografia fortemente azulada e crua, o diretor consegue manter o ritmo em alta, alternando brutalidade com ótimas sequências de ação, mas sempre mantendo o pé no chão, afinal estamos falando de um autêntico figurão da literatura pulp, que é adaptado fantasticamente em um filme sem igual, que conta ainda com diálogos memoráveis (já vi tantas vezes o longa, que confesso ter decorado mais da metade das falas) e sacadas que, se favorecem em alguns momentos o seu protagonista, em outras complicam a sua vida, em favor de uma narrativa enervante e sagaz, jamais previsível e com ótimas soluções de roteiro, em uma produção honesta, ciente de seu terreno e autêntica em sua proposta.
É claro que Gibson ficou marcado para sempre com seu papel em Coração Valente, e também em Mad Max, o próprio Murtaugh e até, por que não, o Nick Marshall em Do Que as Mulheres Gostam, mas, na minha opinião, sem erro, Porter foi e continua sendo o maior papel da carreira do ator. E um dos maiores filmes do século também, dentro de seu gênero. Ou seja, é uma sessão incansável e catártica.