Zombi Child, um filme de terror inusitado

Na trama de Zombi Child, Fanny (Louise Labeque) e Mélissa (Wislanda Louimat) são colegas em um internato de classe alta na França. Fanny mal pode esperar para sair de lá e encontrar seu namorado, Pablo (Sayyid El Alami). Quando Pablo termina com ela e ela descobre que a tia de Melissa é uma sacerdotisa de Vudu, Fanny recorre à mulher para resolver sua situação.

É até meio complicado explicar a sinopse de Zombi Child, isso porque embora a trama das meninas ganhe mais destaque, o filme também narra a história de Clairvius Narcisse, um homem que suspostamente foi zumbificado, no Haiti. Certamente existe uma ligação entre as duas histórias. Mélissa é uma menina haitiana, que vive na França, mas que ainda mantém suas origens, e é isso que dá espaço para inserir o vudu na trama que se passa na Europa.

A ideia do diretor Bertrand Bonello é interessante porque coloca dois mundos completamente diferentes lado a lado, quase como em uma comparação. O Haiti é retratado como um país bem mais atrasado que a França, mesmo que boa parte do filme se passe em um internato, e que as roupas e instalações do lugar nos pareçam um pouco antiquadas. Mas Zombi Child consegue, à sua maneira, relacionar os dois países, mesmo que seja através das crenças que os perpassam.

Zombi Child e As meninas

Boa parte da trama, no entanto, retrata Fanny, Mélissa e as outras meninas que vivem no internato. O filme se preocupa em mostrar a rotina delas, suas aulas e a maneira com que elas se relacionam entre si. Nesse sentido, Bonello entra a fundo nesse universo. Ele nos coloca quase no olhar de Fanny, que se vê presa no internato, quando na verdade, gostaria de estar com Pablo.

Embora trate de temas muito próprios, Zombi Child lembra outros filmes de terror que se passam dentro do mundo das garotas adolescentes, como O Demônio de Neon, Suspiria e até Carrie, a Estranha. Zombi Child também retrata a amizade, pontuada com pingos de rivalidade, as preocupações com a beleza e o corpo e os dramas adolescentes com namorados e romances.

Todos esses aspectos servem ao terror da trama, uma vez que primeiro Fanny conhece Mélissa na escola e quando descobre que sua tia pratica vudu, acha que é uma boa ideia recorrer à mulher para resolver um problema de um namorico adolescente, que talvez a longo prazo, nem seja tão importante assim.

Aspectos técnicos

Zombi Child se vende como um filme de terror e tem muitos elementos do gênero. A obra apresenta uma situação misteriosa, uma possibilidade de perigo e personagens que estão lidando com suas vidas e com questões muito maiores do que si mesmos. Um ponto positivo é que ele trata de um tema que é pouco explorado no cinema de terror, que é o vudu, que mesmo quando tem destaque nas telas é necessariamente um destaque negativo, como acontece em A Chave Mestra.

Também é interessante como o diretor retrata o universo das meninas que vivem no colégio interno que é onde o filme se passa. Ele parece querer levantar vários temas, que circundam a feminilidade e a sexualidade, mas não vai até o fundo nas suas constatações, o que é uma pena. Zombi Child é um filme um pouco lento e certamente não vai agradar o espectador que for atrás de um terror mais padrão, cheio de sustos e jump scares, mas ao longo do tempo, ele vai se tornando mais sonolento, o que pode cansar qualquer um.

Outro problema do filme é que ele demora muito para mostrar quais são suas intenções e qual é o tema que ele pretende desenvolver. Isso também deixa o filme mais lento e um pouco confuso.

Zombi Child é um terror diferente que trata de temas que não são comuns, mas que demora um pouco para engatar. Ele mantém um ritmo lento que pode desagradar algumas pessoas. O filme teve sua estreia adiada por conta do coronavírus.