Os Melhores Anos de Uma Vida – de 1966 a 2019
Diretor traz de volta o casal mais de 50 anos depois
Depois de “Um Homem, Uma Mulher” de 1966 e “Um Homem, Uma Mulher: 20 Anos Depois” de 1986, o diretor e roteirista Claude Lelouch traz novamente Jean-Louis Trintignant e Anouk Aimée nos papéis de Anne e Jean-Louis em Os Melhores Anos de uma Vida, cuja estreia marca a reabertura do Cine Petra Belas Artes no dia 24 de junho.
O primeiro filme se tornou um clássico do cinema francês, fazendo escola no quesito relacionamentos conturbados na tela. Levou também o Oscar de Melhor Filme de Língua Estrangeira e de Melhor Roteiro. No longa conhecemos Jean-Louis, um piloto de corrida, e Anne, uma roteirista de cinema. Ambos são viúvos e têm seus filhos estudando no mesmo colégio interno. Dessa forma, eles acabam se conhecendo quando Anne perde o trem de volta para casa.
Ao voltarem juntos, nasce uma amizade que evolui junto ao número de caronas. Um romance que parece perfeito até demais. Entretanto, depois de muitos “rolês de casal” e também passeios junto com seus filhos, Anne revela a Jean-Louis que a memória do marido ainda está muito presente nela e que, por isso, ela não conseguiria seguir em frente em um relacionamento com ele.
Os Melhores Anos de uma Vida
2019 retoma essa história de amor que aconteceu há mais de 50 anos e marcou vidas, falando sobre os traços que deixamos um no outro. No primeiro flashback, a personagem de Anouk Aimée envia um telegrama para o personagem de Jean-Louis que diz: “Eu te amo”. Esta é uma declaração que acaba virando a vida de cabeça para baixo. Ou seja, tudo começa com o momento extraordinário em que uma mulher tem coragem de declarar o seu amor.
Hoje, o ex-piloto de corridas parece perdido nos caminhos de sua memória, vivendo em uma lar para idosos. Para ajudá-lo, seu filho procura a mulher que seu pai não foi capaz de manter, mas sobre quem ele lembra constantemente, mesmo debilitado e com sinais de Alzheimer. Anne, então, se reúne com Jean-Louis e sua história recomeça onde eles terminaram…
Os Melhores Anos de uma Vida retira sua autenticidade de uma realidade que deixou seus vestígios com o público. As imagens do passado combinam-se com as imagens do presente para produzir um animado movimento de vaivém. E isso torna esse novo filme também universal. Só não entendi por que a continuação de 1986 não é mencionada em nenhum momento. É como se a trama de “Um Homem, Uma Mulher: 20 Anos Depois” nunca tivesse existido (ela ainda trabalha com cinema e tenta filmar algo parecido com o romance vivido 20 anos atrás, mas sente muita dificuldade).
Um homem, uma mulher
O diretor não encara esse filme como uma sequência: “Eu sabia que o filme precisava envolver até aqueles que não viram Um Homem, Uma Mulher. Precisava se sustentar com seus próprios pés e ser um filme independente.”, ele diz.
E realmente, não é necessário ter assistido ao filme de 1966 para entender do que se trata Os Melhores Anos de uma Vida. O longa consegue passar sua mensagem com uma trama atual, apesar de utilizar bastante material do passado. Alguns flashbacks são indispensáveis para a correta interpretação dos personagens, já outros são um pouco de enrolação. Mas nada que estrague a experiência, claro. Afinal, quem não gosta de ver um carro em ação em plena Paris do século passado, não é mesmo?
Podemos dizer que o melhor de “Um Homem, Uma Mulher” está presente também em Os Melhores Anos de uma Vida. O casal, que já não é mais um casal, mas que poderia muito bem ser, com seus trejeitos e manias, suas vontades e suas birras; seus filhos, crescidos, porém com boas memórias de um passado distante; a trilha sonora que é sensacional; e, claro, Paris.
Por que assistir Os Melhores Anos de uma Vida?
Este é um filme sem precedentes, pois é o primeiro a reunir o mesmo casal de atores (que rendeu uma indicação ao Oscar® para Anouk Aimée) e levá-los aonde sua história mundialmente famosa parou, mais de 50 anos atrás. Até os filhos são interpretados pelos mesmos atores! Mas também é muito mais do que isso. O 49º trabalho de Claude Lelouch é, acima de tudo, uma visão singular dos aspectos mais importantes da vida, por um cineasta único e apaixonado. O filme não é uma conclusão nem um epílogo, mas algo inteiramente novo.
Os personagens realmente começam de novo. “Acho profundamente emocionante ver Jean-Louis e Anouk cinquenta e três anos depois, no espaço de um segundo. É um segundo da eternidade que abre um buraco no tempo. As emoções são trazidas em círculo completo. As imagens de Jean-Louis e Anouk de duas épocas diferentes apenas intensificam nossas emoções.”, são as palavras de Lelouch.
A ideia de retomar a história surgiu na festa dos 50 anos do primeiro filme. O diretor observou o casal conversando e percebeu que eles estavam se divertindo. “Era como se algo tivesse ficado inacabado e nenhum de nós queria que terminasse. Naquele dia, vi o que tornou Anouk e Jean-Louis ainda maravilhosamente únicos depois de todos esses anos. Pensei comigo mesmo que seria fantástico tê-los juntos novamente, como um par de noivos eternos que ainda tinham que dizer suas palavras finais – palavras que também poderiam ser as primeiras.”, diz Lelouch, que ainda completa: “na nossa idade, eu poderia fazer Anouk e Jean-Louis dizerem praticamente qualquer coisa. Como eu, eles estão no terceiro ‘trimestre’ de suas vidas. Finalmente, podemos dizer o que realmente pensamos, enquanto no dia a dia tendemos a moderar as palavras.”.