Psicopata Americano – Não precisa de introdução
À parte das fantasias de violência que Patrick Bateman sofre, o mais curioso é notar que Psicopata Americano foi escrito e dirigido por duas mulheres (Guinevere Turner e Mary Harron, respectivamente), baseado no livro homônimo de Bret Easton Ellis, publicado em 1992 — o que reforça a potência do discurso aqui, colocando homens brancos no poder (em Wall Street), que passam horas e dias em disputas de poder (quem tem o cartão de visitas mais bonito, quem conseguiu marcar naquele restaurante chiquérrimo etc).
E esse fato, de ter duas mulheres à frente da história, poderia nos dias de hoje ser classificado ridicularmente como “lacrador”, mas numa época onde ainda não se debatia isso, torna essa produção ainda mais ousada — não pela ultraviolência dos crimes imaginários –, mas pelas questões que levanta e como levanta.
Psicopata Americano
Bateman e qualquer um dos outros CEOs são arquétipos de pessoas reais, que existem até os dias de hoje. Essa varredura pela mente dessas figuras não poderia ser mais crua e realista. E entre misóginos, racistas, machistas, homofóbicos, xenofóbicos e antisemitas, pode-se ao menos dizer que o protagonista é o menos hipócrita dentre seus iguais, pois coloca em prática as divertidas e cruéis execuções em seu mundinho particular, que só nos é desvendado no desfecho, de maneira abrupta e esperta.
A caricatura que Christian Bale faz aqui, aproxima sua atuação mais de Jim Carrey do que qualquer outra, mas existe uma entrega cômica que funciona nessa sátira e em seus absurdismos. Mary Harron e Guinevere Turner são muito sagazes quando colocam várias cenas com Bateman evidenciando seu lado assassino, em alto e bom som, mas nunca sendo ouvido ou sequer ganhando a devida atenção pelos ouvintes — aqui, a figura da sociedade, que é incapaz de enxergar em um homem padrão, de terno, de vida invejável e todo certinho, ser capaz de grandes atrocidades (não cometidas de fato, mas pelo menos rabiscadas em seu caderninho).