O Homem Nas Trevas 2 – A escuridão começa na alma
Antes de começar a abordar O Homem Nas Trevas 2, é importante falarmos do primeiro, do que pode se tornar uma franquia rentável do terror/suspense contemporâneo, O Homem nas Trevas (2016). O primeiro filme tem uma trama descomplicada, onde um grupo de três jovens assaltantes de lares classe média, se vê numa nova empreitada: assaltar um velho cego aposentado e ex-militar chamado Norman Nordstrom (Stephen Lang) que, segundo dizem, tem milhares de dólares escondido em sua casa.
Outra informação é que essa grande quantia foi recebida pelo velho senhor, como uma indenização pela morte de sua filha em um acidente de carro. A trama está armada. Ao tentar entrar na casa de madrugada, a equipe de jovens assaltantes se depara com um verdadeiro assassino violento e treinado em táticas de guerra.
A ideia deste primeiro filme era abordar no que o abandono de um pai pode influenciar nas atitudes de seus filhos (exemplo da personagem feminina Rocky (Jane Levy), cujo pai abandonou a família quando ela era criança) e como a perda de um filho pode influenciar nas atitudes de um pai em luto (a perda da filha de Norman). Esse dualismo aparece em várias cenas do primeiro filme. Rocky quer usar o dinheiro dos roubos para levar a meia-irmã para um lugar melhor de se viver, enquanto Norman quer tentar “trazer de volta sua filha amada”. Assim, ambos usam formas moralmente duvidosas para resolverem suas perdas, e é no meio disso que se desenrola a trama, três jovens delinquentes contra literalmente o “Rambo”.
A produção do primeiro filme foi de modestos 9,9 milhões de dólares, rendendo no total 6 vezes a quantia investida (cerca de 66 milhões de dólares), um sucesso inesperado para o diretor Fede Alvarez (remake de A Morte do Demônio – 2013) em seu segundo filme. A produção conta também com o experiente Sam Raimi (Arraste-me para o Inferno, Trilogia Homem Aranha), que já dirigiu grandes obras do terror oitentista, como a Trilogia Uma Noite Alucinante.
O Homem nas Trevas 2 – Sequência tenta humanizar o protagonista
Esse filme tem uma premissa mais condensada que o primeiro. Desta vez, Norman Nordstrom nos apresenta nas primeiras cenas uma garotinha de 8 anos chamada Phoenix (Madelyn Grace). Aparentemente, 8 anos é o tempo que se passou do primeiro filme para o segundo.
Norman é super rigoroso com a educação de Phoenix, não deixando-a ir para escola nem ter contato direto com pessoas de fora da casa. Num dia, bem brevemente, Phoenix sai com uma conhecida de Norman, e se depara com um misterioso homem no banheiro feminino do local e, a partir dessa situação, as duas são perseguidas no retorno à casa de Norman, e o mesmo homem misterioso agora está com uma gangue de ex-militares mercenários, procurando algo que os pertence na casa. Será que Norman, finalmente irá pagar pelos seus pecados do passado?
A partir daqui a trama se assemelha um pouco com a do primeiro filme, um terror/suspense dentro de um ambiente escuro, as táticas militares de sobrevivência estão mais exageradas e bem produzidas que o filme anterior, a cenas mais extremas estão viscerais e mais chocantes, a sonoplastia é intensa e a fotografia menos escura e mais detalhada.
Estreia nos cinemas hoje, dia 12/08/2021
É visível que houve mais investimentos na produção, que conta novamente com Sam Raimi, com o retorno de Fede Alvarez agora como roteirista e a direção ficou com o estreante Rodolfo Sayagues (que ajudou no roteiro do primeiro filme).
A grande surpresa é a tentativa de humanização do personagem Norman. No primeiro filme está claro que o pai angustiado pela perda da filha ficou “cego” e dominado pela escuridão da alma. Neste filme, o distanciamento do fato pelo tempo e os cuidados com Phoenix, fazem Norman se indagar sobre suas ações passadas, dando um baita nó na trama: quem é realmente o vilão nessa história?
Isso pode incomodar um pouco os espectadores, principalmente para as mulheres que assistirem aos dois filmes, pois a história é totalmente dominada pelo arquétipo do macho alfa musculoso que usa da violência extrema para resolver as coisas. Todos os protagonistas (até a criança) usam armas de fogo, como um apetrecho do cotidiano e, obviamente, isso reflete como os EUA lidam com a questão da posse/porte de arma (não exclusivo do filme em questão), mas que ajuda a pensarmos que se tivermos uma arma dentro de casa, poderemos estar mais seguros (ou não).
O primeiro filme consta no catálogo da Netflix (até o momento da publicação dessa matéria)
Por fim, a relação de Norman e Phoenix (e a estética degradada do filme), lembram bastante o filme Logan de 2017, onde um velho e rabugento Wolverine (Hugh Jackman) e sua pupila X-23 (Dafne Keen), se protegem de situações extremas num mundo degradado moralmente e desbotado.
Para quem é fã do gênero, é prato cheio! Para quem não está acostumado, vá preparado para o extremo. No geral a experiência desse filme é potencialmente mais aproveitada numa tela grande de cinema, só assim pode-se ter a melhor contemplação possível. Como o retorno do cinema ainda está se adequando, ficam as dicas: vacinem-se, mantenham distanciamento e esperem as letrinhas que tem cena pós-créditos, abraços!
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