Ainbo: A Guerreira da Amazônia

Ainbo é uma jovem adolescente indígena de uma tribo da Amazônia envolvida com seu cotidiano de relação mágica e física com a poderosa floresta tropical e que se depara com a ameaça do Yakuruna, uma força maligna que representa os instintos de pessoas destruidoras que sempre existiram, existem atualmente na forma dos invasores brancos e existirão mesmo se a natureza sucumbir sob suas mãos.

Nesse aspecto, a visão autóctone da perversidade humana é a coisa mais interessante dessa animação peruana com apoio holandês e americano que exagera na previsibilidade das etapas do roteiro apesar de se apoiar em ideias interessantes.

A começar pelas dificuldades técnicas que se percebem nos andares pouco precisos dos personagens e nas imagens de objetos caindo na água, passeando pela enorme perda de oportunidade de explorar melhor os guias protetores da indiazinha (espíritos da floresta que acabam parecendo personagens de Rei Leão – que
desperdício!) e valendo-se de elementos fantásticos retirados de obras clássicas como História Sem Fim (a tartaruga que sustenta o peso do mundo em seu casco é uma ideia belíssima e tem uma imagética bonita, mas se confunde visualmente com Morla) e de aspectos geográficos que não dizem respeito diretamente ao mundo místico dos povos originais da região, assim o filme peca desnecessariamente.

Ainbo

Ainbo: A Guerreira da Amazônia

Do ponto de vista tecnológico, é claro e até injusto compará-lo com as animações da Pixar e da DreamWorks, que jogaram a barra de qualidade lá no alto; contudo, um pouco mais de esmero (passando a sensação de que o filme foi feito meio que às pressas, pelo menos em algumas partes) poderia ser alcançado, eliminando cenas em que as falhas são mais flagrantes, já que nenhuma delas era imprescindível; também, um roteiro básico menos óbvio ajudaria bastante.

Sim, porque o que temos é mais do mesmo: muito próximo de outras personagens da Disney, Ainbo cumpre a sua epopeia grega superando todas as etapas que uma narrativa dessas exige, com dificuldades ao longo do tempo cada vez mais desafiadoras, superações de todos os obstáculos e apoteose recompensadora, no enfrentamento inevitável entre o bem e o mal.

Mas esses clichês obscurecem algumas boas ideias: a visão indígena da cosmogonia e do espírito destrutivo do ser humano é muito interessante e pouco explorado no cinema. Um maior aprofundamento do tecido social da tribo é uma sugestão a ser considerada em próximos projetos que procurem se debruçar sobre a cultura indígena amazônica e, sobretudo para nós brasileiros, sobre as características e poesia da relação dos povos que habitam a parte hispânica da floresta tropical. Também a intromissão do estrangeiro com seus “presentes” poderia ser uma discussão bacana.

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E o que mais?

Em acréscimo, destaco a fantasmagoria pouco usual em filmes deste tipo representada pela encarnação de Yakuruna, uma incorporação que, se somente os indígenas viam, é uma bela sacada. Aliás, este é um filme para crianças, obviamente, e pode produzir mais uma personagem que carregue uma representatividade tão importante hoje em dia.

Se pesarmos todos os prós e contras, Ainbo: A Guerreira da Amazônia acaba por alcançar o objetivo principal, que é o público a que se destina. Se não é uma perfeição em nenhum aspecto, ao menos é o produto de um indústria cinematográfica – a peruana – que precisa ser mais conhecida. Elimine o Yakuruna de seu coração peludo de adulto e, enfim, divirta-se com o filme.

Ainbo: A Guerreira da Amazônia

Nome Original: AINBO: Spirit of the Amazon
Direção: Richard Claus e Jose Zelada
Elenco: Vozes de Lola Raie, Naomi Serrano, Dino Andrade, Joe Hernandez
Gênero: Animação, Aventura, Comédia
Produtora: Cinema Management Group
Distribuidora: Paris Filmes
Ano de Lançamento: 2021
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