Lola e o Mar
Uma viagem para a aceitação
Lola (Mya Bollaers) é uma jovem transgênera que vive com seu melhor amigo, Samir (Sami Outalbali) e estuda para se tornar uma assistente de veterinária. Quando ela descobre que sua mãe faleceu repentinamente e que seu pai, Philippe (Benoît Magimel), não a avisou de nada, ela resolve procurá-lo, apesar da relação ruim que os dois têm.
Philippe pretende levar as cinzas da esposa para o mar e Lola resolve passar por cima de tudo e partir em uma viagem com o pai para realizar o último desejo da mãe.
A relação familiar
O filme acompanha uma adolescente transgênera que se prepara para fazer a cirurgia de transição. Ela vive com seu melhor amigo, Samir, que parece ser o mais próximo que ela tem de uma família.
Logo percebemos que a relação de Lola com a sua família não é das melhores, ela se afastou de seu pai, que não aceita o fato dela ser transgênera, mas ainda mantém uma relação com sua mãe, que estava inclusive disposta a pagar a cirurgia de Lola, mas escondida do pai.
A história do longa começa quando Lola descobre que sua mãe morreu e que seu pai não só não a avisou do acontecimento, como também não a convidou para o velório. Lola, que era próxima da mãe, resolve passar por cima de sua péssima relação com o pai e ir ao velório mesmo assim.
O primeiro encontro dos dois então, deixa claro que eles não se falam há muito tempo e a trama não precisa falar com todas as palavras o que acontece ali, já que Philippe se refere à filha no masculino o tempo todo e fica visivelmente incomodado com a sua presença.
A viagem
O último desejo da mãe de Lola era que suas cinzas fossem jogadas no mar e Philippe pretende fazer isso, mas claro que ele não informou a filha. Quando Lola descobre os planos do pai, no entanto, ela resolve ir junto com ele e força a viagem, já que ele não quer nem ficar perto dela.
Lola e o Mar então, se torna um road movie, onde Philippe suporta Lola, enquanto Lola aguenta o pai para que possa se despedir da mãe. Os dois passam dias juntos, dentro do carro, sem trocar uma palavra. Mas com o tempo a barreira vai cedendo e os dois começam a se comunicar.
É difícil dizer que a relação entre Lola e Philippe se torna boa, ele passa o filme todo se referindo a ela como “ele” e em alguns momentos, até a chama por seu nome de batismo, mas também o vemos perguntando sobre a vida dela, sobre Samir, e sobre o futuro dela e, em determinado momento, ele a defende de uma ofensa transfóbica e o público sente que existe espaço para Philippe mudar.
Aspectos técnicos de Lola e o Mar
O filme tem um roteiro bem interessante, ainda que não completamente inovador. O assunto do filme, que envolve um pai que não aceita sua filha transgênera, já foi abordado de outras maneiras em outros filmes, mas Lola e o Mar tem o elemento da road trip que o torna diferente.
É interessante também que o fato de Lola ser transgênera não seja o grande tema de Lola e o Mar, claro que é essa questão que motiva a relação conflituosa entre ela e o pai – que também nunca é dita de maneira explícita, mas insinuada pela troca de pronomes – e que esse assunto é tratado em cena, mas é tudo de maneira bem sutil. O ponto mais importante de Lola e o Mar é a relação dela com seu pai e o luto que os dois compartilham, que pode os unir.
O filme também ganha pontos por trazer uma atriz transgênera, Mya Bollaers, para interpretar Lola. Ela está, aliás, ótima no papel principal. Benoît Magimel também está ótimo e seu personagem chega a dar raiva nos telespectadores. Os dois funcionam muito bem na tela, o que ajuda e faz a audiência crer naquela relação que vai aos poucos se remendando, ainda que aos trancos e barrancos.
Lola e o Mar tem como protagonista uma personagem transgênera e trata de questões que dizem respeito a essa população, mas ganha muito quando personaliza a vida de Lola e foca na experiência universal do luto e das relações familiares. O longa chega aos cinemas no dia 14 de abril e estará disponível na Filmicca a partir do dia 28 de abril.