Era Uma Vez um Gênio
Eu tenho relações de amor e ódio com as localizações de títulos de filmes para o mercado brasileiro. Minha maior crítica é a adição de subtítulos completamente desnecessários, como fizeram em “Cloverfield: Monstro” (pra quê isso???). Ao mesmo tempo, alguns são tão bem feitos que ficam melhor que o título original, como “Corra que a Polícia vem aí“. Seria normal torcer o nariz para o uso de “Era Uma Vez um Gênio” como título de “Three Thousand Years of Longing” (algo como “três mil anos de ansiosa espera”, a verdade é que eu realmente não sei traduzir “longing”). Mas, depois de assistir ao filme, a conclusão é que realmente é um título excelente.
Ode às histórias em Era Uma Vez um Gênio
A personagem principal, interpretada pela sempre excelente Tilda Swinton, é uma narratologista. Isso significa que ela é uma estudiosa de histórias e estruturas narrativas, o que faz todo o sentido com o “Era uma vez” do título. Já a parte do “um gênio” fica com o Idris Elba, bonitão como sempre e convincente interpretando um ser que passou alguns milhares de anos trancado dentro de uma garrafa.
Como não podia deixar de ser, é um filme sobre histórias, seus contadores e suas estruturas. E histórias de gênios, que são normalmente tão óbvias e iguais, acabam levemente subvertidas por conta do próprio conhecimento da ouvinte (e consequentemente da audiência) sobre o tipo de histórias que esperamos.
“Every genie story is a cautionary tale“, ela diz em certo momento do filme, para descrever o que são as histórias de gênios. Nessa hora, o time de tradução falha e traduz “cautionary tale” como “fábula”, mas é por falta de uma palavra que tenha todo esse significado de “uma história com a intenção de fazer o ouvinte tomar o devido cuidado com o que deseja”.
Mad Miller
Mesmo que as histórias contadas soem simplórias e conhecidas, a direção acertada de George Miller faz tudo parecer muito mais lindo e fantástico. O diretor, conhecido pela franquia Mad Max (e Happy Feet, por que não?), entrega outro espetáculo visual, cheio de areia e guitarras desnecessariamente complicadas.
Tudo é muito bonito e soa propositalmente exagerado, que é exatamente a forma como o gênio gostaria que víssemos sua história. É como se ele pedisse à audiência para se deixar encantar da mesma forma que a personagem principal se encanta. E quem for ver o filme e se deixar ser encantado por ele não vai se arrepender.
You never had a friend like me
O gênio de Idris Elba já é um dos mais legais do cinema. Melhor do que do Will Smith (que eu gostei bastante ainda), e nunca tão bom quanto o de Robin Williams (nunca nenhum vai ser em meu coração), é dele a responsabilidade de fazer deste um filme tão delicioso. É claramente um filme de gênio e até o Einstein aparece para deixar essa categoria evidente.
Já o diretor George Miller prova mais uma vez que é um baita contador de histórias e tem uma mão certeira no visual. Um filme que provavelmente não vai ter a audiência que merece, mas daqueles que vale a pena ver no cinema. Uma obra literalmente genial.