Mad Max: Estrada da Fúria – Muita ação!
George Miller ressuscita sua principal franquia Mad Max, fazendo um resgate clássico. Assim sendo com um cinema vanguardista e impressionante, que trata de empoderamento feminino em um cenário tipicamente western.
Ele faz questão de trabalhar em grandiosos sets, colocando seus atores e dublês em situações de risco real. O diretor manobra com tranquila habilidade essa ópera roqueira, brutal e visceral de maneira realmente espetacular.
A princípio pela fotografia que contrasta incrivelmente o laranja com o azul do deserto; uma direção de arte inspirada, com tomadas longas e que sabem valorizar o cenário colossal de um deserto apocalíptico. Então todas as figuras são párias. Onde existem homens messiânicos em poder da água; líderes com domínio sobre a gasolina ou a munição; e mulheres sendo usadas como gado.
Mad Max: Estrada da Fúria
Assim, nessa jornada insana, repleta de fetiches e absurdos surrealistas pra lá de bem-vindos (que muito remeteram a 300 de Zack Snyder), trombamos com homens e mulheres que não se encaixam nas gangues nem no padrão e seguem em uma jornada de vingança ou redenção.
Nisso, é claro, Charlize Theron brilha com espaço à vontade em sua já iconográfica Imperatriz Furiosa. Uma mulher de respeito que busca a libertação das noivas de um ditador. A medida que carrega a força, a destreza e esperteza para esse combate e essa fuga. Sempre em busca de um vale encantado utópico.
As meninas ao seu redor também fortalecem o discurso feminista, que chega num momento pontual dos nossos tempos. Quase um contraponto do machão típico e divertido resultante do cinema de ação oitentista, consagrado por Mel Gibson, que ali emulava os trejeitos de John Wayne. Se considerarmos que este Mad Max, assim como foram seus antecessores, é um faroeste na Austrália, esta é a maneira Miller de homenagear e referenciar o gênero.
O feminino representado
Porque o subgênero de western eleito pelo diretor em Mad Max: Estrada da Fúria é o da travessia do comboio. E desde sempre as diligências trazem consigo uma noção de feminilidade. Assim como as carroças de tantos longas, que carregavam mulheres grávidas, entre famílias que são protegidas pelos homens solitários a cavalo. Então, a diligência é a esperança em marcha. Sintetizada na fertilidade da mulher. E dela irradia o senso de proteção da civilidade que marca as produções de bang-bang.
Nicholas Hoult surge meio solto e aleatório a princípio no enredo, para depois provar seu valor que desequilibra a balança de maneira inesperada. Em um roteiro improvável, que apesar de não ser exatamente inventivo em sua condução, surpreende com uma reviravolta aqui e ali.
Mas o novo Mad Max não é ovacionado pelo roteiro, mas pelo espetáculo visual que Miller soube construir do começo ao fim, com um cinemão pipoca que há muito, há muito mesmo, não víamos. Em uma Hollywood cada vez mais óbvia, cheia de respostas fáceis.
Classicão
Então a proposta aqui segue na contramão. Resgatando um esforço das décadas passadas em entregar um longa cheio de personalidade, que já nasce clássico e vai ser revisto dezenas de anos a frente, dificilmente vindo a envelhecer.
No meio de tanta saturação e cores vibrantes, de tantas sequências formidáveis pelas tardes fervilhantes e noites insólitas, temos Tom Hardy, meio perdido ali, jogado a esmo num enredo que não lhe cabe. Max, seu personagem que só se identifica no final, até entrega boas cenas de ação, pirotecnia e insanidade, mas é evidente também, que sua ausência não seria sentida. O filme é da Furiosa e das figuras vilãs ao redor. Pois o Max mesmo, como o conhecemos, ficou no deserto dos anos 80. E tudo bem com isso.