Preciosa Ivie

Ivie (Haley Louise Jones) é uma jovem mulher que vive em Leipzig e procura um trabalho estável como professora. Ela nunca conheceu seu pai, mas um dia, Naomi (Lorna Ishema), sua meia-irmã por parte de pai, aparece na sua casa e lhe conta que o pai das duas faleceu.

Enquanto as duas se conhecem e se planejam para ir ao funeral dele, Ivie começa a pensar sobre as suas raízes e também tenta entender quem ela realmente é.

Ivie e Naomi

Embora a protagonista de Preciosa Ivie seja Ivie, Naomi, a meia-irmã de Ivie, tem um papel quase tão importante quanto. Ivie é uma mulher de trinta anos que vive na Alemanha e que quer ser professora. Embora seja formada e tenha muitas qualificações, ela tem dificuldades para arrumar um emprego. Ivie é filha de uma mulher branca (Anneke Kim Sarnau) com um homem negro, que ela nunca conheceu. Sua pele é clara e fica subentendido que Ivie não se entende como uma pessoa negra ou como uma pessoa com ascendência africana, mas sim como uma mulher alemã.

Já Naomi, que aparece na porta do apartamento de Ivie um dia, sem dar muitas explicações, vive em Berlim e é filha de uma mulher negra (Sheri Hagen), com um homem negro, então ela tem a pele mais escura e, diferentemente da meia-irmã, se entende como negra.

O filme dá bastante foco à relação recém-descoberta e recém forjada das duas irmãs. Não existe nenhuma fraternidade entre as duas, já que elas se conhecem adultas e acabam sendo obrigadas a conviverem, enquanto se programam para ir – ou não – ao enterro do pai. Além de aprenderem a conviver, as duas também têm a chance de velar um pai que elas não conheceram, e passar por um luto por uma pessoa da qual elas nada ou pouco sabiam.

Racismo estrutural

Mas um dos temas principais de Preciosa Ivie é o racismo estrutural que está presente em vários momentos tanto da vida de Ivie, quanto da vida de Naomi, mas que é percebido de maneira muito diferente por cada uma dessas mulheres.

Ivie é uma mulher que não se vê como negra, e quando Naomi comenta sobre as raízes das duas, ela pergunta “Mas que raízes? Eu sou alemã”, ela não percebe que está, na realidade, cercada de racismo. Os amigos brancos de Ivie a chamam de “chocolatinho” de maneira carinhosa, como eles mesmo garantem, mas isso começa a incomodar Ivie assim que ela conhece Naomi e escuta algumas das coisas que ela tem para falar.

O mesmo se dá na carreira de Ivie, pois ela é uma mulher formada e muito qualificada, mas que tem dificuldades de arrumar um emprego estável como professora. Todas as entrevistas de emprego que ela participa acabam em uma discussão sobre “as origens” de Ivie e de como isso pode ajudar as crianças filhas de migrantes, mas Ivie também não percebe o que isso quer dizer até conhecer Naomi.

Naomi, que já é mais perceptiva, não escapa dos momentos de preconceito, que quando direcionados a ela são bem mais diretos e agressivos. Nesse sentido, Preciosa Ivie também é um filme sobre essa jovem mulher tentando entender quem ela é e quais são suas raízes.

Aspectos técnicos de Preciosa Ivie

Preciosa Ivie parte de um tema bem interessante: duas meias-irmãs que nunca se conheceram e que também não conhecem muito bem o pai que dividem, mas que precisam lidar com a morte desse homem. Muitos assuntos, de fato, vem à tona durante o longa, entre eles a relação de Ivie e Naomi, a relação dessas mulheres com suas mães e o luto pela morte do pai, mas também por não ter conhecido o pai antes dele falecer.

O grande tema do filme é o racismo e mais especificamente o racismo estrutural, aquele que “não é proposital”, é “na brincadeira” e que “não é por mal”, e o longa se sai muito bem na maneira com que retrata essa questão. Ivie, que não se reconhece como uma mulher negra, não vê como o racismo está presente em praticamente todos os momentos da sua vida, diferentemente de Naomi, que percebe e denuncia.

O tema é instigante e importante, mas o filme demora um pouco para engatar e acaba se tornando um pouco monótono. A segunda metade do longa, no entanto, é um pouco mais interessante, já que já conhecemos melhor os personagens e já entendemos para onde o filme se encaminha.

Claro que isso não desabona as atuações, que são boas. Haley Louise Jones e Lorna Ishema se saem muito bem e prendem a atenção do telespectador com suas personagens que são fascinantes.

Preciosa Ivie é um bom filme, mas é um pouco lento, o que acaba prejudicando o resultado final da obra, ainda que o tema se faça necessário e de maneira urgente. O filme chega à plataforma de streaming Filmicca no dia 13 de outubro.