Insanidade

O terror do conflito de gerações

Depois de terminar um namoro e perder o emprego, Olive (Amanda Crew) resolve passar um final de semana no interior e aluga a casa de um viúvo, Harvey (Robert Patrick). Enquanto ela tenta relaxar, Harvey tenta esconder seus impulsos homicidas.

Terror com humor ácido

À primeira vista, Insanidade parece ser um filme de terror onde uma jovem mulher se vê de frente a um psicopata, e durante um bom tempo ele mantém essa impressão. Olive é uma jovem mulher que acabou de terminar um relacionamento e que logo depois perde o emprego. Ela resolve, então, viajar.

Robert Patrick como Harvey em Insanidade
Robert Patrick como Harvey

Ela é uma mulher independente, mas fala para o dono da casa que aluga que seu noivo logo vai chegar para acompanhá-la durante o final de semana, mas Harvey, um viúvo antiquado que tem um segredo sombrio, fica rapidamente interessado e decide que Olive é a escolha perfeita para que ele finalmente realize um desejo antigo: saber como é a sensação de matar alguém.

Com o tempo, no entanto, o filme mostra outros tons, ainda que sua base seja essa mesma. Insanidade é repleto de um humor ácido que tradicionalmente não faria sentido dentro da proposta, mas que funciona. A ironia está presente desde o começo do filme, já que Olive é, por si só, uma pessoa bem irônica, mas essa ironia aumenta com o tempo e fica escancarada nos momentos mais dramáticos e mais assustadores, que normalmente seriam mais sérios.

Conflito de gerações

Isso porque Insanidade, na verdade, usa o terror para falar do conflito de gerações entre os baby boomers – geração nascida entre 1945 e 1964 na Europa e nos países de língua inglesa – e os millennials – geração nascida entre 1981 e 1995 -, que são representados por Harvey e por Olive, respectivamente.

O filme usa do terror para falar do conflito de gerações
O filme usa do terror para falar do conflito de gerações

Isso fica claro pelos comentários que os dois personagens fazem. Olive é uma mulher moderna que defende minorias, que não sente a necessidade de estar sempre acompanhada e que sonha em ser pianista, ainda que ela não seja muito boa nisso, ninguém nunca diz a verdade para ela. Harvey se define como um homem conservador, que reclama dos progressos da sociedade, que tem dificuldade com tecnologia e que se incomoda com os mais jovens.

Claro que existe um certo exagero, a ideia parece ser essa mesma: ninguém aponta que Olive é ruim no piano, porque os millenials são conhecidos por nunca serem contrariados por seus pais, e Harvey não sabe mexer com tecnologia, porque existe uma piada recorrente de que pessoas mais velhas não conseguem acompanhar as evoluções tecnológicas.

Também nota-se uma tentativa de fazer um terror social, que não é tão bem sucedida assim, talvez porque o filme use demais da ironia. Não é só o conflito de gerações que vem à tona aqui, mas também o machismo presente não só no comportamento de Harvey, como também em todos os personagens masculinos, desde o ex-namorado de Olive, que mantém um relacionamento com ela quando já está com outra mulher, até o chefe dela, que faz comentários inapropriados para as mulheres da empresa. A ideia é bem próxima da de Men – Faces do Medo, onde todos os personagens masculinos são problemáticos e potencialmente perigosos, em Insanidade uma série de homens terríveis também desfila na tela.

Aspectos de técnicos de Insanidade

Insanidade parte de uma ideia bem interessante, o filme usa de clichês do slasher para falar de conflitos de gerações, e ele vem, inclusive, na onda dos terrores sociais, que tem como intenção trabalharem questões importantes da sociedade através do gênero do terror, mas essa questão demora a aparecer de fato no longa, durante boa parte dele, Insanidade só parece um filme de terror comum, cheio de clichês.

Insanidade se perde um pouco no meio do caminho
Insanidade se perde um pouco no meio do caminho

Outro problema de Insanidade é que ele não parece saber exatamente sobre o que quer falar, o tema principal é o conflito de gerações, e ele ressalta esse tema em vários momentos, mas ele também dá bastante destaque ao machismo, que pode sim fazer parte do conflito de gerações, mas que não é o principal tema aqui.

Por outro lado, o tom irônico funciona se quem estiver assistindo estiver disposto a comprar a proposta do filme. No começo, as inserções engraçadinhas no meio de um filme slasher parecem surreais, mas com o tempo elas vão fazendo sentido.

Amanda Crew como Olive
Amanda Crew como Olive

O filme dá bastante destaque para seus dois protagonistas, Amanda Crew e Robert Patrick, que se saem bem. Ela, especialmente, tem um tom de comédia bem interessante. Mas Insanidade não tem muito suspense e nem é um filme especialmente assustador, mesmo porque já sabemos das intenções de Harvey logo no começo, então, nada é muito surpreendente.

Insanidade é um filme com boas ideias e um certo potencial, mas que se perde quando tenta abordar mais temas do que consegue e que tem dificuldades para transferir toda a sua mensagem para a audiência. O filme chega ao streaming para locação no dia 3 de novembro.

Insanidade

Nome Original: Tone-Deaf
Direção: Richard Bates Jr.
Elenco: Amanda Crew, Robert Patrick, Hayley Marie Norman, Johnny Pemberton, Kim Delaney
Gênero: Terror
Produtora: Best Medicine Productions
Distribuidora: A2 Filmes
Ano de Lançamento: 2019
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